A arte de desobedecer
Sou filha mais velha.
Em que pese minha inquietude e criatividade, pendo para o lado obediente.
Um lado desta moeda não é nada mal:
Respeito ao outro, capacidade de organizar, casa limpinha, vontade de convergir.
O outro lado é uma maldição.
Já não falo de obedecer a pais ou marido, que há tempos já desistiram (risos).
Mas de obedecer esta voz interna sombria, sempre dizendo: não é o suficiente. Ou: não importa que você esteja cansada, preguiçosa ou simplesmente distraída. É preciso, é urgente, é necessário.
Compromissos, sacrifício, tarefas.
Coisas de que meu querer e sentir prescindem, mas o senso de dever… Ah, o senso de dever.
Grilhão aprendido. Tatuagem que ainda vou transmutar.
Para isso pratico uma nova tarefa de casa, presente da coach querida. Desobedecer.
Desobedecer a esta voz insana e impiedosa, que não vê que os segundos são demasiados preciosos para irmos na inércia das obrigações sem sentido.
A vida deve (e pode) ser uma conversa entre o que é bom para mim e bom para o outro. Uma valsa justa, onde ninguém pisa em calo de ninguém. Onde fazemos o melhor uso deste tempo que temos. Deste corpo que temos. Desta vida miraculosa que temos.
Para isso é preciso desobedecer convenções sem nexo, tradições vazias.
“É feio cantar na mesa”.
Por quê seria, se o canto é manifestação de êxtase, celebração e alegria?
Comer de boca aberta agride o outro, mas cantar na mesa? Cantemos.
Vamos seguir por estes caminhos novos, meio esquisitos de tão pouco trilhados.
Vamos ouvir nosso coração. Desta escuta nascerá a obediência que importa: obedecer ao chamado do amor por si mesmo e pelo próximo.
Para transgredir todo o resto, se for necessário.