Hoje é dia das crianças e de todas as partes recebo mensagens sobre a criança que fomos.
O pensamento voa e percebo que minha criança trazia a essência mais pura do que sou hoje.
Fonte primeira da criatividade, liberdade de errar, alegria que tantas vezes me faltam agora que sou adulta.
Olho para meu dentro, curiosa.
E lá está ela.
Quando eu danço, canto, rio, faço amor.
Todas as vezes em que eu esqueço os nãos da vida, as vozes de censura, a mão no forno quente (oops, isso queima!).
Mas é impossível esquecer sempre. É imprudente.
Pois estes limites me permitiram formar recursos. Atalhos. Atenção.
Então o que fazer? Como nutrir esta criança que vive em mim, sem que ela se jogue no abismo?
Aprendo, mãos mais hábeis com a costura, a distinguir.
Criei minhas máscaras, minhas respostas sociais, uma certa polidez. A elas também devo ser grata.
Mas saber quando guardá-las na estante, para ir dançar lá na chuva. Esta é minha ambição.
Não num exercício frio e premeditado. Não funcionaria. Nem sei ser assim.
Mas na suave conversa entre meus vários tamanhos, guiada pela minha intuição. Supervisionada pela experiência cultivada em anos de crescer a consciência, o perdão, a gratidão.
Hoje é dia de honrar esta criança que fomos e que, por que não, ainda somos, mesmo que em fragmentos de nossa vida.
E honrar não é regredir, brigar com o mundo, fazer o que bem se quer.
Honrar é mantê-la, viva, pulsando. Selvagem. Amada.
Amar-se.
Honrar é cuidar das crianças que amamos dentro e fora de nós, para dar-lhes força e delas flamejar nossa própria força.
Hoje acordei de mãos dadas com uma menina de olhos grandes, desajeitada e sonhadora.
Titice, obrigada por estar aqui comigo.