Novamente, tempos de turbulência. Tiroteio nas mídias. Evidências de corrupção, salários atrasados, baixarias, maniqueísmo. Dois lados em guerra, um acusando o outro de todos os males deste país.
No meio de tanta cizânia, o que realmente me aflige são os fatos.
Desemprego real, inflação real, alta do dólar real. Se começou há 500 anos, vinte anos ou oito anos, não me importo mais. A legenda não muda a realidade: toda a semana fico sabendo de mais uma pessoa desempregada. Recebo currículos de estranhos.
Olho ao meu redor e meu coração se aperta.
Afogada na angústia das previsões pessimistas de ambos os lados, busco um caminho para avançar. Como contribuir para melhorar meu país? Como ajudar? Como agir?
Curiosamente, enquanto escrevo estas linhas, o filme na tv mostra o diálogo: “Como mudamos o mundo? Uma atitude real de amor e carinho de cada vez”.
Não me motivo a participar de passeatas ou me engajar nas intermináveis discussões políticas. Não me sinto disponível para esta guerra.
A resposta que o meu coração pede é atravessar esta crise de um outro modo. Tentar ser a mudança, no alcance da medida do meu braço.
Por exemplo, os meus amortecedores vencidos.
O último ano foi de despesas crescentes com meu automóvel, culminando no veredito que os amortecedores precisam ser substituídos. A vontade de vender o carro aumentou e conversando com o dono da oficina, ele me disse que muitas revendedoras não se preocupam em verificar a condição dos amortecedores, pois eles não costumam fazer barulho e, portanto, ser checados pelo comprador.
Pesquisando sobre o assunto, aprendo sobre os riscos de segurança de um amortecedor vencido e nasce a pergunta: devo vender o carro sem investir nos amortecedores?
Para alguns, uma questão prosaica, meio boba em meio à seriedade do cenário político-econômico atual.
Para mim, não. Meditei sobre o assunto e percebi que não seria capaz de vender um carro que pudesse significar um risco, mesmo que remoto, para seus novos ocupantes.
Decidi não vender o carro ainda e, principalmente, trocar os amortecedores antes de vendê-lo. Alguns podem achar a questão pequena. Outros terão argumentos para dizer que a probabilidade de um acidente é remota, que o amortecedor deve estar em ótimo estado e foi má fé da oficina.
Eu discordo.
Dan Elijah J. Fajardo |
Este para mim, é precisamente o ponto. Acredito que é também nestas pequenas decisões que vamos construindo um mundo mais ético. Vou pedir uma segunda opinião sobre os amortecedores. Mas prefiro o prejuízo a vender um carro sem condições de segurança.
O mesmo princípio que me guia ao não parar na faixa de pedestres, ao não jogar lixo pela janela.
Ao buscar ser mais gentil, justa, honesta. No troco da padaria, que seja.
Acredito que avançaremos se cada um de nós fizer uma escolha para além do ganho pessoal ou evitar seu próprio prejuízo… Se cada um tiver este olhar vigilante e empático sobre tudo, nos menores detalhes, promovendo mudanças em nossa casa, nosso prédio, nosso bairro, nossa cidade, nosso país, nosso planeta.
Portanto, não me interesso pelo número de seu partido ou pela cor de sua bandeira. Meu convite independe da legenda.
Fazer o certo, mesmo que com algum prejuízo pessoal. Olhar com responsabilidade para seu dia a dia e agir de acordo.
Anseio por menos reclamação e mais ação positiva, sem julgar os que decidiram se manifestar de um jeito ou de outro.
Apenas ofereço a minha forma de promover mudança. Começando pelos amortecedores.