O fragmento do sonho era este: um ovo. Dentro do ovo, uma ostra.
A primeira reação, um estranhamento. A ostra pegajosa, gelada.
Ficar com esta espera. Até brotar a pérola, quantos grãos de areia?
A escolha do que olhar e como olhar.
Calar a voz de autocomiseração e arrependimento para honrar o aprendizado e a força na travessia.
Uma vida extraordinária, pontuada de aventura e coragem.
Um repertório variado e precioso de conhecimento e ferramentas. A vida corporativa. A escrita. O Luto. A Comunicação Não Violenta. O tarô. A culinária. O Corpo Inteiro.
As cicatrizes recordando dos altos preços pagos. Das batalhas sangrentas. Dos perigos.
O amor de mãe imorredouro, o olho que tudo vê e o coração que ama tanto: “Eu sei, mamãe”.
E dentro, um vazio. Um vazio onde nascem mundos. Um nascedouro de cura.
Mirra.
“Onde houver desespero, que eu leve a esperança”.
Então, voltar para casa. Aprender que é sempre preciso voltar para casa.
Depois de espalhar sementes, depois de compartilhar os bálsamos.
Voltar.
Plantar minhas próprias sementes. Banhar-me em meu próprio bálsamo.
Lá fora, por vezes é escuro e frio.
Aqui dentro, “um invencível verão”.
Invencível também em sua humildade e prudência.
“Há um tempo para plantar, há um tempo para colher”.
Dentro de mim, meu coração partido de saudade sussurra; ” A Morte não é Nada”.
Mergulho no nada, sem medo.
É tempo de gestação. Para nascer borboleta, morre a lagarta.
Para nascer a curandeira, morre a salvadora.