Na última sexta-feira, meu marido tirou a barba depois de quase vinte anos.
Eu mal me recordo de como ele era sem barba. Durante praticamente toda a nossa vida em comum,ele se mantinha firme no visual “Homem do Mar”…
Até que um belo dia ele sai do banheiro e me diz: “tcharam!”.
Olhei de relance e disse: “Não Gostei”.
Ele ficou um pouco chateado e voltou para dentro do quarto.
Mais uns minutos e consegui esboçar uma segunda reação: “Eu vou me acostumar!”.
Enquanto ele saía para comprar uma tapioca na feira com a irmã, ainda ouvi ao longe “Eu já me acostumei”, em resposta a algum comentário dela (provavelmente também um pouco chocada…).
Agora, mais calma, refleti sobre a minha reação:
Primeiro, a rejeição:
“Ele mudou”. “Não o reconheço mais”. “Por que ele mudou?”. “Será que não está bom do jeito que está??” e a verdade final: “Será que ainda sou boa o suficiente para ele?”.
A segunda reação já é fruto de amor. “Eu vou me acostumar”. Esta certeza de que nós já passamos por tanto juntos, tantas mudanças… Esta é mais uma para temperar nossa vida a dois. Aqui, já começo a aceitar a mudança e respeitar o desejo dele de mudar.
Finalmente, onde estou agora, o terceiro momento: abraçar a mudança, gostar da mudança…
“Como será seu beijo sem barba?”. “Ah, ele ficou mais jovem…”. “Que bom estar com alguém que se permite uma transformação tão profunda!”. “Que divertido!”.
E penso, como foi para os outros quando EU mudei? O corpo, o cabelo, as crenças, a profissão. Subitamente imagino a violência do impacto nas pessoas acostumadas com o meu antigo eu.
Estou grata por meu marido ter tirado a barba. Deu-me a chance de provar um pouco do susto que meus amigos, pais e irmãos (e ele…) devem ter experimentado.
Permitiu-me compreender um pouco mais o desafio de aceitar a mudança no outro. Aquela mudança que não foi você quem escolheu.
Fico com a certeza de que as pessoas próximas me amam muito. Por abraçarem e apoiarem uma metamorfose deste tamanho. Sinto como é difícil com base na singela vivência de um marido de visual mudado.
Obrigada, Lucrécio. Eu te amo.