Ser inteiro é exercício constante e ingrato. Lembra-me do esforço do artista em decorar seu texto, em praticar sua dança. Corpo concentrado, desafiando limites e navegando por dentro da alma.
Tamanha intensidade e esforço requerem ancoragem.
Nenhuma ancoragem substitui a conexão entre caminhantes. E de todas as formas de conexões, estimo profundamente os laços de amizade.
Children at the sea, by Joaquin Sorolla y Bastida |
Tenho poucos amigos antigos. Trago-os bem aconchegados no peito. Pessoas que sabem de mim desde sempre, testemunhas de meu frutificar e minhas batalhas.
Mãos dadas nas horas alegres e tristes. Sorrisos de compreensão e gargalhadas cúmplices.
Prezo muito meus amigos.
Hoje em especial, uma pessoa que navega comigo há muitos anos, desde o tempo de escola. Lucrécia Corbella, aniversariante do dia.
Nossa amizade já enfrentou furações pessoais, maternidade, graduação, casamento. Os percalços da vida familiar, a dois e a quatro.
A construção de nosso ser adultas, nosso trabalho, nosso crescimento espiritual.
Foi-se o tempo dos cabelos azuis (dela, não meus…). Mas ficou o entusiasmo, a capacidade de amar sem reservas. O olhar agudo e a vontade de estar junto.
Considero-me uma pessoa generosa. Lucrécia é ainda mais. Pródiga em afeto, elogios, compreensão, doação ao outro. Amor-amizade-amor.
Uma generosidade engajada com o mundo e banhada de carinho para comigo.
Um privilégio fazer parte desta trajetória de reinvenção, sentimento e coragem. Uma dádiva tê-la ao meu lado entre tempestades, desertos e sustos da vida.
No seu dia, minha amiga, desejo a delícia de um raio de sol e o calmo silêncio do do luar.
Que nossa amizade siga inexorável. Cultivada no leito de um rio amplo e de um céu estrelado.