As ruas por onde andei

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Rua Lisboa, 151/51.

Endereço-marco no meu destino.

Porto seguro em Sampinha.

Berço dos meus filhos.

Cenário de transmutação.

Os tacões da sala de estar, praticamente únicos sobreviventes dos tempos antes da ampla reforma.

Aquele lar que desenhei azulejo por azulejo.

O umbigo do meu filho enterrado no canteiro do jardim.

Os passeios na praça Benedito Calixto.

O McDonald’s da Avenida Rebouças, antes da ojeriza ao fast food.

A finada Blockbuster, ida há tempos junto com a lojinha balinesa e tantos restaurantes e cafés.

Caminhando por esta calçada, pesaram fundo no peito as minhas escolhas.

Havia uma vida ali, preciosa.

Ainda que de olhos vendados.

Aperto o passo, consciente do poder inebriante da nostalgia frente ao medo durante transições.

Ah, a segurança que habita as fotos amareladas do tempo que já passou.

A memória seletiva colorindo um cotidiano feliz, apagando as dores antigas.

Em meio a tanta mudança, o quentinho destas lembranças é tentador.

Fico um tempo aqui, relembrando estes anos e outros mais.

Até um simples ontem parece idílico diante da incerteza do hoje.

Fecho a janela do passado.

Com cuidado e muita gratidão.

Tudo valeu a pena. Tudo serviu.

Mas não é mais.

Tenho este hoje com bordas de amanhã. E é tudo.

Respiro fundo, dou mais um passo e seguro meu coração.

É preciso coragem para evoluir.

Desapego também.

O céu azul recorda-me que há muito horizonte.

Porviremos.

 

 

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