Viver Mais Simples

Bocados menores

Eu sempre vivi a vida como se ela fosse um banquete.

Generosa em servir-me e também em compartilhar porções fartas de tudo.

2016 foi um ano em que aprendi, de forma contundente, que menos é mais.

Há tempos, luto contra os efeitos colaterais de tanta gulodice.

Meu corpo, claro, carrega os quilos extras de décadas de abuso.  Trabalhar demais, descansar de menos, ser moto-contínuo de ideias e ideais.

Os outros também pagam a conta.  A intensidade das interações pode ser difícil de digerir.

Na vida pessoal, tenho a sorte de ter bons amigos que “filtram” e me apontam excessos.

No trabalho, o preço muitas vezes foi financeiro. Outras vezes, cansaço. Tantas vezes, uma certa comoção do outro lado.

Mas estou mudando.

Como discípula de bons mestres, descobri que cada um tem um estômago de um certo tamanho.

Para alguns, é preciso ir aos poucos. Mas principalmente para mim mesma, com este meu grande apetite, o comedimento tem grande valor.

Ao oferecer a medida mais certa, doo o suficiente de mim. Poupo-me.

O outro lado, agradece. Pois processar tanta intuição e insight dói na cabeça, no coração e na barriga.

Este ano, tão frugal, foi a prova dos nove.

Precisei diminuir minhas frentes de atuação para dar conta. Fechamos a Argo, reduzimos asas do Voe.

No Odisseia, trabalhos mais curtos, mas com grande potência e profundidade. Ser mais suave e gentil, não diminuiu a efetividade. Ao contrário.

A  vida pessoal pedia mais foco e não havia para todos. Concentrei-me nos filhos e em mim.

Aceitei ajuda como jamais havia aceito.  Apoiei-me em muitos braços e asas.

Ouvi mais meu corpo. Parei antes. Às vezes, nem comecei.

Recebi com humildade o preço dos exageros. Colhi com ternura os frutos da sensatez.

Agora é tempo de fechamentos.

Meu coração segue inteiro, neste pulso mais suave.

O banquete da vida ainda é tão saboroso, nesta versão de melhor tamanho..

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