Começos têm sido difíceis para mim. Tantos finais me fizeram perder o jeito com inícios.
Na esperança de reiniciar um ritmo, lanço-me numa nova missão… Fazer os experimentos propostos pelo “Jogo do Eu” criado por R.D. Silva para a Editora Matrix.
O primeiro desafio: cantar uma música do começo ao fim, de cor. Imediatamente aflora a sequência que usei tantas vezes para embalar meus filhos. “Uma História”, do Palavra Cantada. E segue pelos clássicos “O Cravo e a Rosa” e “Serenô”.
O coração logo se acalenta e a emoção desperta. Ninar a mim mesma antes de prosseguir. Estar presente no ar que entra e sai do peito. No abdômen atento. Na articulação da mandíbula e boca.
Memórias límbicas da mãe, então recente, aprendendo os primeiros passos em meio á vida executiva, sem família perto. Momentos de muito susto e muito choro.
Os anos se passaram e o projeto de maternidade evoluiu, mesmo separada do pai dos meninos. Os bebês cresceram pessoas compassivas, especiais, fonte de alegria constante e conflitos que me ensinam a cada interação.
Olho para a força que tive de gestar, parir e criar estes seres. Invoco esta força ao mesmo tempo em que conjuro a serenidade na singela frase “minha vida é um barquinho”.
Cantar tem sido uma prática de cura e autoamor.
E também responsável por uma certa magia. Sereia que emerge em mim. A cauda-peixe tremulando por novos oceanos. O fôlego redescoberto para inéditos mergulhos.
A canção de ninar de fato me acorda.
Hoje, estou aqui, dois pés ficados na terra, asas agitadas dentro da mochila. E uma nova esperança acenando ali defronte.
Voo, mergulho, caminho. O importante é dar o próximo passo.