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“Lá no fim do morro, Calunga
Tem uma menina, Calunga
Da cara queimada, Calunga
Quem que queimou, Calunga?
Foi a senhora dela, Calunga.
Por causa de quê, Calunga?
Por causa do peixe frito, Calunga.
Quede o peixe frito, Calunga?
Gato comeu, Calunga.
Cadê o gato, Calunga?
Fugiu pro mato, Calunga.
Cadê o mato, Calunga?
Fogo queimou, Calunga.
Cadê o fogo, Calunga?
Água apagou, Calunga.
Cadê a água, Calunga?
O boi bebeu, Calunga.
Cadê o boi, Calunga?
Tá no milharal, Calunga.
Quede o milharal, Calunga?
Galinha comeu, Calunga.
Cadê a galinha, Calunga?
Tá botando ovo, Calunga.
Cadê o ovo, Calunga?
Padre comeu, Calunga.
Cadê o padre, Calunga?
Tá rezando a missa, Calunga.
Cadê a missa, Calunga?
Já se acabou, Calunga.”
Está música foi cantada por minha avó Gisela para meu pai, que cantou para mim e, agora, eu canto para Léo e Olivia.
Parece ser muito antiga, do tempo dos escravos, pela primeira (e cruel) estrofe.
Esta música representa para mim raízes fundas e memórias felizes.
Também ilustra a sequência da natureza, onde tudo é natural, contínuo e nada é espanto.
Nós sofremos e nos dilaceramos. O mundo segue lá fora, sol a sol. Somos passageiros.
Esta cantiga vem da tradição oral. Registrá-la aqui é como registrar minha história, minha origem, minha vida.
Calunga.
Este é um post da série “6 Bilhões de Outros”, inspirada neste projeto aqui.
Mais detalhes do projeto neste post.