Nas andanças destes quase dois anos, tenho abraçado o desconhecido, o novo, o improvável. Tenho experimentado, me lançado.
E é tudo muito bom.
Mas a estranheza cansa. A novidade demanda esforço, coragem, desprendimento.
Por isso, também é bom estarmos em casa.
E a casa da gente pode ser na estrada, como aprendi em três dias passados em Paraty, numa mini-aventura com meus dois filhos.
Fui suficientemente corajosa em embarcar numa pequena viagem com meus pequenos, sem ajuda de marido, amiga ou parente… Fomos os três de ônibus, ajudados por pouca bagagem e alguma tecnologia.
A viagem trancorreu bem, mas um ponto alto foi sem dúvida termos almoçado e jantados no mesmo lugar TODOS OS DIAS.
Uau. Três dias em Paraty e nada de experimentar um restaurante a cada refeição. Por quê?
Por que encontramos um lugar com bons pratos infantis. Por que foi preciso um pouco de pausa, de familiaridade para encarar a aventura a três. E por causa do Melo…
Tivemos uma experiência mais ou menos no nosso primeiro almoço. Paraty é cidade de restaurantes muito caros e comida nem sempre á altura, como descobri.
Era pouco antes das 19h, cedo para a maioria… Mas já estávamos cansados e famintos, no fuso horário peculiar de crianças de três e seis anos.
Eu já havia passado por inúmeros locais que me espantaram com a cara triste ou a perspectiva de música ao vivo, algo que me cansa muito.
Quase chegando ao hotel e já bem mal-humorada, deparei-me com o desprentensioso “Aconchego Grill”. Fomos recebidos na porta por Melo, garçom do local.
Melo acolheu meu mau-humor pacientemente, convenceu-me a ficar: “a música não começa antes das 20h, prometo”. E não começou.
“Peça o que quiser para as crianças e eu dou um jeito”. E deu.
Serviu o prato infantil dividido, distraiu as crianças. Virou um amigão deles.
Mais tarde, já acalmada por sua mansidão, descobri que tem muitos filhos, a última adotada. Ele adora crianças e as crianças adoram ele.
Meus filhos pediram: “Mãe, podemos almoçar aqui amanhã? E jantar? E almoçar de novo?”. Sim, podemos.
Fui sozinha com meus dois filhos pequenos para uma cidade histórica. Brincamos com as pedras irregulares, tomou-se banho de piscina gelada. Andamos de charrete duas vezes. Comemos cocada, brincamos de jogos de tabuleiro na sala de estar do hotel. Foram seis horas para ir, seis horas para voltar.
Já era aventura suficiente, não precisávamos fazer um tour gourmet.
Em todas as refeições, enquanto eu recarregava minhas energias, ficou claro que é preciso um pouco de familiaridade para levar com graça e energia tanta incerteza que há na vida.
Saí de Paraty renovada, contente comigo. Dei conta da criançada e aprendi um pouco mais sobre meus limites.
Aceitei a ajuda de Melo, ouvi o apelo das crianças. E encontrei abrigo para o meu cansaço, para poder caminhar mais um pouco.
E você? Sabe a hora de buscar um pouco mais do mesmo?