Coragem e Gentileza
Dia destes fui ao cinema com os pequenos.
Nada pretensioso, refilmagem de clássico Disney, com profundidade mediana e figurinos fabulosos.
No entanto, os ares não são para princesas tontas,daí o mote da heroína: Coragem e Gentileza.
Ser boa, mas não tão boa que pisem no seu calo.
Ser corajosa para enfrentar as injustiças e dificuldades da vida, já que assim é a vida, com sua beleza e sofrimento.
O filme era bobo, mas esta mensagem, não.
Fiquei a pensar.
Minha coragem tem ardido em fogo baixo.
Não sei bem o que é, ou se são todas as coisas.
Ela segue firme lá no meu dentro, mas não anda muito flamejante.
Tipicamente, eu empunharia uma espada e iria atrás dela. Puxaria seus cabelos e diria: “Acorda, minha filha”.
Mas venho buscando mais candura e temperança.
Gentilmente acolher este tempo de coragem em banho-maria, esperando ventos mais propícios para atiçar as chamas.
Trabalhando, claro, mas de um jeito mais manso, silencioso, introspectivo.
Olho tudo isso com um certo receio, mansidão é um jogo novo para mim. Mas dentro, uma luz pulsa: “siga em frente, vá com fé”. Esta luz é uma nova forma de coragem, mais gentil.
Assim prossigo. Avançar é o caminho, mesmo que em ritmo mais lento.
E lentidão não seria uma forma de gentileza comigo e os outros, nestes tempos tão céleres?
Fé não seria um tipo de coragem acompanhada?
Não quero marchar. Quero ir assim, “tiptoe”, passos menores, delicados, testando o terreno.
Sempre para a frente. Mesmo que isso signifique dar a volta, sentar-me na pedra, apoiar-me no ombro alheio.
Minha coragem está transmutando-se de dragão para borboleta.
É um pouco assustador, confesso.
Mas é maravilhoso testemunhar este tecer de possibilidades na seda da gentileza, depois de tanto tempo segurando a aspereza da corda do meu destino.
Sigo assim, bailando azul rumo a um horizonte sem garantias.
Meu coração bate forte dentro do peito, um pouco mais gentil.