Meu nome significa alegria. Uma doce maldição.
Falo assim, em paz.
Sempre fui e trouxe alegria para o mundo. Hoje desconfio que tanta competência atraiu pedras cada vez maiores.
O desafio é sempre à altura da perícia do guerreiro.
Além de meus próprios apertos, foi me concedido o dom de sentir a dor dos outros.
Onde passo, percebo.
Não há tristeza que me escape.
No ponto de ônibus, no encontro com o outro. No escritório. Na rua. Na vida.
Trabalho pela travessia.
Este é meu caminho.
Iluminar o sombrio.
Um pouco fora, um pouco dentro de mim (às vezes, me perco entre fronteiras).
Sou uma ajudante.
Cegos, surdos, mudos, claudicantes: todos me interessam.
Todos me ensinam.
Olho para eu mesma, os soluços e tropeços de humana. Agradeço a pele fina.
Só assim, em carne viva, posso maravilhar-me tanto.
Em meio a cordilheiras de dificuldades alheias, descubro borboletas.
Meu ofício é sacro. Ajudar plantios. Semear sonhos. Cultivar horizontes.
Quando tudo é estranheza, velar as mudinhas me faz feliz.
Hoje falava de escuros e tempestades com uma grande amiga.
Ao final, ríamos das intempéries. É tão difícil, sabemos. Mas é estrada que ensina.
Xingamos uma meia dúzia de palavrões, rimos da molecagem.
Que abraçar nosso destino não é ver tudo cor de rosa.
Abraçar nosso destino é amar o preto, o branco e o cinza.