Às vezes, acontece.
Por mais gratidão, contentamento e coragem, nosso coração fica um pouco murcho.
Uma notícia triste, uma noite mal-dormida. Uma pequena decepção.
Nada grandioso. Talvez a sucessão de intempéries normais da vida tenha deixado o balde muito cheio. Só faltava esta gota.
Pode um entreato entre dois dias maravilhosos, ensolarados, cheios de graça.
Ainda assim, ela vem. A noite escura.
Cada um sente de um jeito. Um nó na garganta. O peito sentido. Uma vontade de brigar por nada. Um sono sem fim.
Há muitos sintomas.
Para a noite escura, é preciso buscar antídoto. Não basta a certeza de que o sol vai raiar daqui a pouco. É preciso invocá-lo.
Chamo com todas as forças: Fiat Lux!
Faça-se a luz de minh’alma, que eu gosto do sol, dos pés na terra e do gosto de mar.
Evoco das entranhas todas as forças ancestrais para rasgar a negritude e deixar entrar o calor necessário.
Não desistamos da aurora do espírito.
Dentro da mais sombria noite, habita um coração solar. Ouço ele pulsando, quietamente, bombeando resiliência para cada canto de mim.
Aguardo, entre esperança e teimosia, que cada gota negra de pessimismo ou desalento se esvaia.
Ainda é noite, mas já vislumbro um amanhecer. Espero, com fé.