Despertar desapertos

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Uma leitora amiga se aflige com o tom de alguns de meus textos.
Sim, andei meio apertada.
Ela é muito sábia e me pede (oferece?) um exercício de leveza.

Pois bem, amiga: o momento é propício, as coisas começam a ficar mais fáceis…
Percebo-me com fome de frouxidão.  Uma necessidade de cuidar com sutileza de meu dentro, desfazer nós.

O amor antigo faz dezesseis anos. E anda renovando-se em acordos frescos e uma certa molecagem.

O trabalho frutifica, abundante.  Novos projetos, novas pessoas e novos saberes para lidar com tudo isso.

O espírito se eleva.  Aprendendo novos caminhos, com um pouco mais de humildade e fé.

As amizades aprofundam-se.  A possibilidade de partilhar sentimentos preciosos, emergindo de um lugar de muita verdade e afeto.

A relação com a família vai para um lugar de maior paz.  Aos poucos, as mágoas são perdoadas, abrindo caminho para um renovado amor.

Faço as pazes com meu corpo. Assumindo os óculos, as mechas grisalhas. Quiçá, os quilos a mais.

Faço de meu corpo um templo: completando  o check up tão adiado. Disciplinada no exercício.  Vigiando o respirar, para que não falte. Dormindo na hora certa.

Dentro de mim, uma teia de sustentação afrouxa meus medos.

A coragem de ser eu mesma, confortável em minha pele.

A doçura de sê-lo sem guerrear tanto.

A alegria redescoberta.

É o fim do deserto, do inverno, do medo da escuridão (mesmo que  por ora).

É tempo de voar.

Não tão perto do sol que derreta a cera.
Nem tão perto do mar que me afogue, penas encharcadas.

É tempo de voar numa boa medida.  Espartilho frouxo, virando asa.

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