Exercício proposto por Paula Gicovate sobre texto “Escrever” da Marguerite Duras. Oficina de Escrita sobre o Amor na Casa Inventada:
É a Itália
É Roma
É um saguão de hotel
É a piazza Navona
O saguão do hotel está vazio, menos o terraço, um mulher sentada em uma poltrona.
Garçons levam bandejas, vão servir os hóspedes no terraço, voltam, desaparecem no fundo do saguão. Retornam.
A mulher adormeceu.
Chega um homem. É também cliente do hotel.
Para.
Olha para a mulher que dorme.
Ele se senta, para de olhar para a mulher.
A mulher desperta.
(continua o texto escrito em 15 minutos):
Ela o olha diretamente e, sem mostrar nenhuma surpresa, levanta-se (como se fora trivial deparar-se com este homem imerso em pensamentos outros).
Sem pedir licença, segura seu pescoço entre gentil e brusca. E o beija.
Um beijo profundo, sem rédeas e sem pressa.
Afasta-se suavemente. Casual, senta-se novamente e pede um café.
O homem, congelado, ouve o coração sobressaltar-se entre susto e esperança.
Os lábios formam um esboço de palavra.
A garganta seca, no entanto, sequestra o som.
Atordoado, pisca.
E este pequeno movimento, põe tudo a perder.
Ela já se foi, deixando o homem atônito sonhando amanhãs e lamentando sua pouca prontidão.
Na mesa, o café esquecido fala de uma história inconclusa, página vazia.
Um amor desperdiçado por distração ou falta de coragem.