Conheci Daniela no curso Intensivo do School of Life, em abril deste ano. De cara nos identificamos pela intensidade de nossas paixões. Ela dedica sua vida á apoiar a construção de negócios que gerem um impacto positivo no meio ambiente e sociedade, através de sua empresa, a PADMA.
Quando me enviou um breve relato de uma de suas viagens, meu coração neto de plantador se comoveu e pedi para ela compartilhar aqui em nossa comunidade.
Seu texto me fez ter muita gratidão pela comida que tenho o privilégio de comer todos os dias. Com vocês, Seu João, D. Neusa e Daniela Lerda!
Imagem: Daniela Lerda |
Cheguei essa semana de Minas, onde visitei produtores de mamona (Ricinus communis L.), fruto utilizado pela industria de óleos vegetais e para a produção de biodiesel. A viagem foi linda. Visitei agricultores familiares no norte do estado; gente humilde, e ao mesmo tempo, cheia de dignidade.
Foi lá que conheci o Seu João; pai de 14 (7 meninos e 7 meninas). Me lembrou aquele filme das antigas – Sete Esposas para Sete Irmãos!!
Seu João é esposo de dona Neusa, católico fiel, e agricultor nato. “Esse aí, é daqueles que nunca desiste,” comentou Dona Neusa. “Mesmo quando vamos perder tudo, como vai ser nesse ano.”
A seca e o calor do ultimo verão, deixaram quase todos os agricultores da região quebrados. “Só restava olhar para as mudinhas murchando no sol e solo rachado”.
Por conta da seca e calor extremo, muitos produtores não terão do que viver esse ano. Muitos dependem diretamente da renda que retiram de seus plantios. Mas e quando não tem produção?” perguntei. “Ah fia, dá-se um jeito,” afirmou Seu João.
Preferi não aprofundar. No fundo, no fundo, não tinha nada a dizer diante de uma situação como a dele.
Quando perguntei como ele fez para se livrar das lagartas que atacaram sua lavoura, respondeu “Ah, isso não gosto de contar não. Ninguém acredita! Venci as bicha com a reza. Voltei pra casa, depois de passar uns dias na cidade, e já tinham comido quase metade da lavoura. Fiquei preocupado! E comecei a rezar. Fui andando e rezando, cercando a área das lagartas num cinturão. No dia seguinte, tinham ido embora. Não sei pra onde…nem quero saber!” A linha que dividia a área devorada pelas lagartas era marcante. De um lado, tudo morto, seco, amarelo. Do outro, brotavam pés de feijão e mamona, sorrindo para o Seu João.
Fiquei positivamente surpresa em como a vida no campo melhorou. Claro que estamos falando de Minas Gerais, que junto com o RJ e SP, está entre os estados do Brasil melhor assistidos por serviços públicos. Ao mesmo tempo, é inspirador ver agricultores humildes com acesso a água (nem sempre de boa qualidade..), eletricidade, casas de alvenaria, televisão, geladeira, fogão, postos de saúde acessíveis…e ainda assim trabalhando a terra, dia pós dia, ano após ano, seca trás seca.
Senti uma enorme gratidão pelo trabalho que fazem na produção de alimentos.
E ao mesmo tempo, vi, e sei, que é uma vida dura. Viver de plantar é um grande risco! Esse ano, os agricultores que visitei perderam tudo por conta do clima. E cá entre nós, é inaceitável que esse agricultores sejam impactados por problemas climáticos, quando o governo federal tem seguro que garante 65% da renda prevista para estes casos. Na realidade, os bons programas da agricultura familiar, simplesmente não chegam para quem mais precisa!
O que mais me impressionou, é o quanto as novas gerações não se interessam em ficar no campo. Todos vão a escola, e buscam uma vida melhor que a de seus pais. Querem morar na cidade, ter conforto e acesso aos bens de consumo que todos almejamos. Há também o preconceito quanto a quem vive da terra, jovens não querem ser tidos como “jecas”, “matutos” ou coisas do gênero. Imagino que no futuro teremos dificuldade em encontrar pessoas dispostas a produzir alimentos…e a agricultura se tornará cada vez mais mecanizada, menos diversificada, mais química, e intensificada.
É esse o futuro que queremos? Como mudar esse cenário? É sobre isso que ando refletindo ultimamente…
Seu João é esposo de dona Neusa, católico fiel, e agricultor nato. “Esse aí, é daqueles que nunca desiste,” comentou Dona Neusa. “Mesmo quando vamos perder tudo, como vai ser nesse ano.”
A seca e o calor do ultimo verão, deixaram quase todos os agricultores da região quebrados. “Só restava olhar para as mudinhas murchando no sol e solo rachado”.
Por conta da seca e calor extremo, muitos produtores não terão do que viver esse ano. Muitos dependem diretamente da renda que retiram de seus plantios. Mas e quando não tem produção?” perguntei. “Ah fia, dá-se um jeito,” afirmou Seu João.
Preferi não aprofundar. No fundo, no fundo, não tinha nada a dizer diante de uma situação como a dele.
Quando perguntei como ele fez para se livrar das lagartas que atacaram sua lavoura, respondeu “Ah, isso não gosto de contar não. Ninguém acredita! Venci as bicha com a reza. Voltei pra casa, depois de passar uns dias na cidade, e já tinham comido quase metade da lavoura. Fiquei preocupado! E comecei a rezar. Fui andando e rezando, cercando a área das lagartas num cinturão. No dia seguinte, tinham ido embora. Não sei pra onde…nem quero saber!” A linha que dividia a área devorada pelas lagartas era marcante. De um lado, tudo morto, seco, amarelo. Do outro, brotavam pés de feijão e mamona, sorrindo para o Seu João.
Fiquei positivamente surpresa em como a vida no campo melhorou. Claro que estamos falando de Minas Gerais, que junto com o RJ e SP, está entre os estados do Brasil melhor assistidos por serviços públicos. Ao mesmo tempo, é inspirador ver agricultores humildes com acesso a água (nem sempre de boa qualidade..), eletricidade, casas de alvenaria, televisão, geladeira, fogão, postos de saúde acessíveis…e ainda assim trabalhando a terra, dia pós dia, ano após ano, seca trás seca.
Senti uma enorme gratidão pelo trabalho que fazem na produção de alimentos.
E ao mesmo tempo, vi, e sei, que é uma vida dura. Viver de plantar é um grande risco! Esse ano, os agricultores que visitei perderam tudo por conta do clima. E cá entre nós, é inaceitável que esse agricultores sejam impactados por problemas climáticos, quando o governo federal tem seguro que garante 65% da renda prevista para estes casos. Na realidade, os bons programas da agricultura familiar, simplesmente não chegam para quem mais precisa!
O que mais me impressionou, é o quanto as novas gerações não se interessam em ficar no campo. Todos vão a escola, e buscam uma vida melhor que a de seus pais. Querem morar na cidade, ter conforto e acesso aos bens de consumo que todos almejamos. Há também o preconceito quanto a quem vive da terra, jovens não querem ser tidos como “jecas”, “matutos” ou coisas do gênero. Imagino que no futuro teremos dificuldade em encontrar pessoas dispostas a produzir alimentos…e a agricultura se tornará cada vez mais mecanizada, menos diversificada, mais química, e intensificada.
É esse o futuro que queremos? Como mudar esse cenário? É sobre isso que ando refletindo ultimamente…