Viver Mais Simples

II. Respeito pelo caminho

Continuando a reflexão desta última sexta-feira, hoje escrevo sobre a segunda ideia que vem mexendo com minha cabeça: Respeitar nossa caminhada.

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Estamos sempre buscando mais, querendo mais. E muitas vezes, invejando o do vizinho. O emprego, o marido, a mãe, o filho, a empregada. A lista é interminável.
E nesta prática masoquista, nos perdemos do que já conquistamos. Do que é nosso.
Honrando a nossa história
Como comentei antes, adoro esta fala atribuída a Isaac Newton: “enxergo mais longe porque estou sobre o ombro de gigantes”. Nosso olhar sobre a vida pode ser iluminado pela história de nossos predecessores:
A sabedoria e desacertos de nossa família e amigos, o legado de nossos ídolos, tudo que foi feito e desfeito antes de nós. 
Nossa própria jornada tem muito a nos ensinar. Ferramentas que utilizamos, vitórias e tropeços. 
Mas para isto é preciso honrar herança e caminho.

Aceitar um cumprimento
Apesar da caminhada do Viver Mais Simples ser sinuosa e imprevísivel, já colhi frutos preciosos: a nova forma, a nova calma, a nova disponibilidade. As criações no trabalho, mesmo que ainda em fase experimental.
No entanto, muitas vezes reluto em abraçar estes acertos e tenho que ser lembrada deles por meus amigos (novos e antigos). E eles costumam falar de três fortalezas minhas:
A Coragem de escolher um caminho diferente e perserverar nele.
A Generosidade de estar presente e disponível, querendo o bem.
A Abundância de gerar ideias, emoções e traduções a serem compartilhadas com o mundo. E a crença nesta mesma abundância.
Portanto estou aprendendo:  agradeço e aceito estes cumprimentos.
Aceitar nossas virtudes é necessário e bom.

O que fomos
O hoje é o maior presente, mas o ontem nos trouxe até aqui.  Nossas raízes fundas, nossas memórias felizes, as habilidades que praticamos ao longo da estrada.  Os parceiros que elegemos, as escolhas que fizemos. Tudo isso nos constitui. E nem tudo são flores.
Uma relação sofrida com um familiar, uma separação difícil, alguém especial que se foi. Não podemos impedir a existência da morte, do medo, da dor, da injustiça. Mas podemos aprender com eles. Podemos enfrentar nossos fantasmas e transformá-los em força e ferramenta.
Minha tia Gigi lembrou palavras de minha avó, apoiando-a durante uma doença grave da filha:  “Você passou por essa dificuldade e isso vai te deixar mais forte, na próxima vez que tiver um problema, você vai pensar que do mesmo modo que você superou esse problema, vai superar os outros que surgirem.”
E assim é. Mas para isso, é preciso honrar a nossa história.

Os percalços do caminho

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.”
Carlos Drummond de Andrade

Meu coach, Marcus Baptista, me disse: defeitos pessoais costumam a ser o outro lado da moeda onde estão nossas virtudes.
No meu caso, o benefício da minha abundância se mistura com o risco do meu exagero. Não saber a medida e afogar a mim e aos outros numa torrente de ideias e palavras.
A beleza da minha generosidade se alterna com a tentação de me intrometer na vida dos outros, impondo soluções minhas para problemas alheios.
Mesmo a coragem volta e meia me atrapalha em entender o medo do outro.
Marcus me recomendava como antídoto: estar sempre de prontidão. Quando o monstro levantar a cabeça, perceba e o controle.  Mas ele estará sempre ali.
Com o tempo, a prontidão fica mais automática, menos trabalhosa, como dirigir um carro ou nadar. Mas nossas quimeras adormecem, não morrem.
 
Para o erro, gosto de dois caminhos:
1) Descobrir o que pode ser mudado da próxima vez:
Ajudei meu irmão com um projeto. Tudo ia bem enquanto se tratava de organizar ideias e o posicionamento de um determinado produto. Mas planejei uma estratégia de divulgação que culminou num evento vazio, que custou razoável investimento por parte dele. Foi duro, mas ambos enfrentamos o que aconteceu. Saímos mais amigos e conscientes de que a veia comercial não é bem meu forte… Especialmente porque eu  leio entusiasmo em tudo, quando ás vezes, ele vem de dentro de mim… Agora estou mais atenta a pedir ajuda no que não é minha especialidade.
2) Ser humilde: eu falho, eu julgo errado. Eu não sei tudo. O caminho eventualmente poderá dar voltas. Faz parte da minha humanidade e me lembra de não subestimar minhas limitações.
Usar  as pedras do caminho como um chamado para a realidade, é útil. E traz um sentido para a dor do tropeço.
Aceitar um cumprimento, honrar minha história, abraçar meus erros.  Assim eu respeito o meu caminho.
E você, respeita o seu?

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