Viver um caminho próprio é uma tarefa heróica. Ainda (infelizmente) mais desafiadora para mulheres, especialmente as vítimas de preconceito e/ou violência.
Já falei sobre a questão da Beleza Real, aquela de se sentir linda e adequada mesmo quando somos fora do padrão vigente em termos de altura, volume e formato. Eu, que sou gorda, sei bem do que estou falando.
Esta semana a polêmica é sobre violência sexual contra mulheres. Algo que não vivi na pele (ainda bem), mas que me comove e mobiliza.
Os debates foram inflamados pela pesquisa do IPEA onde 58% dos entrevistados, responderam que “se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros” e 42% acreditam que “a mulher é culpada pela violência sexual”.
Como muitos, eu estou perplexa, entristecida e revoltada com a desumanidade destas crenças.
Como alguém pode acreditar haver pretexto para infringir uma verdade que deveria ser absoluta: todo corpo é inviolável, nenhuma carícia pode ser feita sem a permissão do outro.
Mesmo quando houver concordância no início, se em qualquer parte uma das partes mudar de ideia, é para parar. Ponto final. Sem discussão.
A discussão é dolorosa. Relembra as atrocidades que são cometidas contra mulheres, jovens, crianças. Todos os dias.
Tira monstruosidades de debaixo do tapete: pais e mães que abusam dos filhos, a crueldade dos violadores; a impunidade em tantas partes do nosso país e do mundo.
Imagino o quanto é difícil viver mais simples para um indivíduo que teve sua liberdade mais básica
maculada. Tenho amigos que sofreram diversos tipos de abuso e é um recomeço doído e para gente corajosa.
Fica aqui então meu repúdio a toda e qualquer banalização da violência sexual.
Somos responsáveis por melhorar esta sociedade, denunciando crimes, protegendo quem não pode se defender.
Manifestemos nossa ojeriza ao preconceito travestido de senso comum.
Ninguém merece ser estuprado. Sob nenhuma circunstância.
Nunca.
Que esta pesquisa seja um alerta e um estímulo para melhorarmos o mundo em que vivemos. Vamos juntos, com amor. O silêncio machuca.
Para saber mais:
Pesquisa do IPEA: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?
Project Unbreakable: retratos de vítimas, com frases relacionadas aos abusos sofridos.
Protesto Online Contra o Estupro — http://www.brasilpost.com.br/gabriela-loureiro/protesto-online-estupro_b_5049118.html
“O Tamanho da minha saia não te dá direitos” —http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/03/28/se-liga-mane-o-tamanho-da-minha-saia-nao-te-da-direitos/
Organizadora do “Eu não mereço ser estuprada” recebe ameaças de estupro —http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/03/29/organizadora-do-eu-nao-mereco-ser-estuprada-recebe-ameacas-de-estupro/
Matéria sobre abuso sexual contra crianças: http://www.marieclaire.com/world-reports/cambodian-virgin-trade?src=soc_fcbks
Agradecimentos: Clarinha Gomes e Iracema Guisoni, pelas fontes.