Fim de ano, véspera de férias.
Tic Tac Tic Tac Tic Tac
O peito anda ansioso, observando preocupado o descompasso dos relógios.
Todo o planejamento parece insuficiente.
São poucos dias e muitas atividades.
A mente está cansada e solta fumaça.
O ritmo fica mais lento.
É hora de escolher quais pratos vão quebrar.
Reluto.
Há tanto que é importante.
A Formatura da filha, o Natal, a reforma da casa.
O Site I. O Site II. E acertos no Site III (coisas de quem abre tantas frentes, suspiro).
A consulta médica da empregada leal.
E eu e meu cuidar, tão descuidados…
Sofro.
Há tanto que é urgente.
Trabalhos pendentes.
Emergências e incêndios no capim seco de dezembro.
E os importantes, quando adiados, viram urgentes.
Ando por aí, vestida de vermelho, sirene ligada.
Valentemente, resisto.
Delego o que é possível, adio.
Mas o coração sente.
O medo de não aproveitar férias, preocupada com o retorno.
O medo ainda maior: ter voltado ao velho ciclo de onde fugi para o Viver Mais Simples.
Espere, coração apressado!
Sim, o tempo é pouco, a pressão muita.
Mas não é o último ano.
Respiro, tentando filtrar o sumo do sumo.
Ando com cuidado, para não ferir os pés nos cacos.
Hoje não vou me preocupar.
Confio numa boa noite de sono.
Amanhã, escolher, avançar, recuar.
A valsa da vida segue.