Em momentos de perda, o sentimento de solidão, de abandono, a dor do que ficou para trás. Tudo é assustador.
Instantes onde ficamos face a face com aquilo que sempre nos acompanha. A presença inexorável de nós mesmos.
Ficamos Sozinhos. Dói.
Nos vemos olhos nos olhos da alma, sem máscaras, ficamos nus.
O frio vem.
Como sair do Inverno? Como aquecer a alma?
Abro o Spotify. Caetano Veloso, está lá. Aperto o botão. Começa a tocar “Sozinho”.
“Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois”
Olho para dentro. Penso no passado: o antes.
Faço um rewind da vida, buscando exatamente o ponto onde as coisas começaram a sair do trilho. Onde o automático tomou conta e a roda viva girou? Onde começou a desconexão de algo tão conectado?
Roda Viva… Busco a versão da Fernanda Porto. Com aquela batida surda que dilacera o coração
“A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá”
Percebo que não temos controle de nós, do outro, da vida.
Fazemos a nossa parte e o universo conspira. Um sentimento assustador que me liberta.
Por um segundo…
O frio volta. Busco auxílio do tempo, a quem cabe final razão.
Procuro meu amigo Gilberto. Penso na vida. O palco de tudo.
“Fogo eterno prá afugentar
O inferno prá outro lugar
Fogo eterno prá consumir
O inferno, fora daqui”
O tempo passa.
Chega o Outono.
Folhas caem. Conexões se formam. Sinto o inferno mais distante. O antes, fica mais antes do que nunca. Agradeço à Gilberto.
A Deusa música, minha constante companheira, me afaga.
É melhor ser alegre que ser triste? Sei lá.
Paro. Choro e percebo que se foi tinha uma razão.
Será? Será que já foi?
A música me alivia.
Sigo pela playlist:
“Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim”
Me pego sorrindo.
Um pouco mais quente.
Os dedos ansiosos tocam o fast forward.
Vem a Zizi Possi:
“Me descobrir tão sal e doce
E o que era amargo acabou-se
É bom dizer viver, valeu”
O piano enche meus ouvidos, liberta meu sorriso e com ele vou junto.
Saio de casa. Acelero a playlist:
“Pumped up Kicks” começa:
“All the other kids with the pumped up kicks
You’d better run, better run, faster than my bullet.”
Chego na praia do Leblon, ritmo acelerado.
Corro. Rápido.
O ontem vai ficando para trás. Não tão rápido.
Olho o mar. Lulu vem a cabeça.
“Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas, como um mar
Num indo e vindo infinito”
Ondas: ciclos que se fecham. Espero o vai e vem passar. Ansiando pelo novo começo.
Como as ondas, os ciclos se enroscam em nossos corpos. Refrescando a memória.
Me lembro da infância na praia. A cada nova onda-ciclo: uma queda e um aprendizado. Quanto maior a onda, maior o aprendizado.
Chega a primavera.
Percebo as flores.
A playlistsurge suave com Ney Matogrosso
A flauta enche meu coração
“Bate outra vez
Com esperanças o meu coração”
Penso: as rosas falam sim!
Sigo.
Ainda com medo dos espinhos, tateando o presente.
Vendo o hoje com olhos abertos. Desabrochando. Crescendo.
Levanto a cabeça e Marina sussurra:
“Vem chegando o verão, um calor no coração…”