O preço de andar descalça
Desde que iniciei o viver mais simples, venho escolhendo mostrar-me inteira. Praticar a vulnerabilidade, ancorada nos aprendizados da mestre Brené Brown.
Assim, dispo minha alma aqui. Abro-me para pessoas novas por todo o lugar. Busco ser o mais transparente, verdadeira e autêntica.
Field of Dreams, Majali |
Mas há um preço.
Às vezes, me machuco ao andar tão nua, em carne viva, disponível.
Lembro-me de ao menos duas ocasiões onde ofereci minha amizade com muita força a quem mal me conhecia. Uma vez na faculdade. Outra, a um estrangeiro recém-chegado.
Avaliando em retrospecto, devo ter parecido uma louca com segundas intenções…
Nos dois casos, não deu nada certo.
Há tempos, fui aluna pioneira do primeiro curso no Brasil de um renomada instituição. Exagerando na transparência, despi minha alma de um jeito intenso, em plena sala de aula. Depois, morri de vergonha. Não me arrependo completamente, mas é uma cicatriz bem marcada e, quiçá, foi um dos motivos de não ser aceita como professora de lá, numa outra ocasião.
Claro, há o outro lado.
Minha capacidade de, em pouco tempo, conversar sobre temas íntimos estabelece uma conexão profunda que tornou-se amizade na maioria dos casos.
Minha disposição em ser eu mesma me protegeu de conviver com pessoas de quem discordo em valores, afastadas pela obviedade de nossas diferenças.
E sim, portas se fecharam. Provavelmente não eram boas portas para mim e eu não era boa para elas.
De tudo, ficam duas lições.
Sinto ser vital expressar-me inteira. Neste blog, no meu trabalho, nas minhas relações pessoais.
Mas posso ter alguns segredos. Ou, ao menos, compartilhar-me em camadas de diferentes profundidades, dependendo do interlocutor.
Preciso acolher com humildade as portas que se fecham. Ao escolher expressar-me sem máscaras, permito ao outro não se identificar comigo, assim tão pouco pausterizada. E haverá vezes em que não serei bem-vinda numa turma a que gostaria de pertencer.
A cada dia, descubro uma fé de que tudo é para o bem. As lições aprendidas ao não me modular. Reconhecer uma força divina que escolhe o que é bom para mim, antes de eu perceber.
Seguirei descalça, não sei mais ser de outro jeito. Mas posso olhar por onde ando.