Lá fora, discutem-se macacos e bananas.
Aqui dentro, faz vinte anos.
Vinte anos que minha avó Regina morreu, ensinando-me a lidar com a partida, com a saudade. A perda mais aguda que eu havia vivido até então (talvez até hoje).
Aprendi muito nestes vinte anos. Aprendi sobretudo a bordar emoções, transformando-as em sentimentos (a antroposofia me ensinou que sentimento é emoção ponderada).
Sabe aquela dor bruta que assalta o peito? É suavizada ao percebermos, com gratidão, que doer ensina também.
Quando minha avó morreu, chorei uns dois ou três dias. Mal conseguia falar. Só senti.
Quando passou, ficou a saudade, ainda tão viva e muita. Mas pude atravessar. Por vinte anos atravesso.
Hoje, as dores são outras.
Da jovenzinha de namoro novo e ideais na cabeça, tornei-me uma mulher, casada há duas décadas com o mesmo homem. Mãe de duas crianças intensas, desafiadoras e criativas. Mãe também de um projeto de mim mesma, ainda tenro, mas em franco crescimento.
Mudaram os medos, as perspectivas e as coragens.
Muitas vezes recorri a minha avó para me acudir em apertos.
Olho os apertos de hoje e me pergunto.
O que vovó Regina diria?
Acho que sei a resposta.
Diria: “Minha filha, isso tudo passa. Com fé, amor e capricho, tudo há de se ajeitar”.
Me daria um colo e eu sairia convicta.
Neste 30 de abril, me dou um colo, me abraço e digo: “Vovó tem razão”.