O que não falta
Dia destes, vivi a inédita experiência de não ter água.
Estava num lugar bem rústico quando a cisterna secou. O poço, castigado por uma estiagem, não tinha uma gota d’água.
Era noite, quente, filhos sujos, eu cansada.
Foi difícil.
Então o dia amanheceu e com eles soluções. A água voltou.
No entanto, despertei para a possibilidade de uma falta assim tão básica. Falta presente na vida de tantos e tantos nordestinos e africanos, para mencionar alguns.
A gratidão acendeu em mim e pude perceber quantos outros tesouros essenciais fazem parte do meu dia a dia, “taken for granted”.
O amor de meu marido.
A saúde, minha e dos meus amores.
O conforto, a água, a comida.
O prazer de trabalhar com minha vocação e talentos.
As memórias felizes.
A ausência de grandes sofrimentos, destes inenarráveis e vivenciados todos os dias por crianças, mulheres e pobres.
A lista é tão grande que nem caberia neste blog.
Tudo isso que não me falta.
A caixa d’água seca foi um gentil alerta.
Reclamamos tantas vezes de barriga (e copo cheio).
A vida não é mar de rosas, por decerto. Mas e daí? Não somos feitos de açúcar, para derreter na primeira tempestade.
Sei que o mau humor virá, a rabugice capricorniana. Finco os dois pés neste chão de bençãos de minha vida, na esperança que esta força varra as mesquinharias para bem longe do meu coração.
Nada do que realmente importa me falta. E o que falta, ainda é construção.
Agradeço este tanto que não me falta, alento para prosseguir na busca do que almejo e ainda não tenho… Tantos sonhos por vir…