Viver Mais Simples

Para ser feliz de verdade

Tantas vezes ouvi este desejo de alguém: “que você seja feliz”.

Meu pai, ex-amores, amigos, colegas…

Há um par de dias, aconteceu de novo.

“Quero que você seja feliz”.

Então será que sou feliz?

A felicidade é um destes conceitos elásticos e etéreos, que podem ser tão facilmente nocivos.

Por exemplo, não acredito naquela felicidade do script de Hollywood ou das novelas.

Casamento perfeito, grana mais do que suficiente, casa lindinha, filhos em harmonia, trabalho sensacional.

Vida margarina, como eu gosto de dizer. Sabe, daqueles comerciais de antigamente. Perfeccionismo e ilusão, eu diria.

Também aprendi do perigo de pensar na tal felicidade como uma linha de chegada. Depois de atingida, voilá, é para sempre.

Só a incerteza é garantida na vida.  Dentro e fora de nós, tudo se revolve. Parafraseando a Band News, “em 20 minutos, tudo pode mudar”.

Depois conheci a riqueza dos caminhos da felicidade: plenitude, satisfação, realização ou paz.

Nem sempre ao mesmo tempo. Nem sempre por muito tempo.

Finalmente, a pérola final. Saber que dentro de mim pode viver tristeza e alegria, medo e coragem. Descubro assim que posso estar feliz apesar de pedaços faltarem.  O quebra-cabeças, sempre incompleto.

A minha receita fica mais ou menos assim:

  1. Ser feliz no varejo das pequenas gratidões, do cotidiano, do que é possível. “A verdade é a realidade”. Ser feliz com e apesar dela.
  2. Construir minha satisfação aos bocados, saboreando a jornada (até nas partes mais amargas).
  3. Dar um contorno para a amplitude sem fim do conceito felicidade:  a beleza possível da satisfação passo a passo versus a fome insaciável contida no ideal tão impreciso do “ser feliz”.
  4. Reconhecer os recortes de felicidade entre as pedras da vida, as farpas, as feridas frescas, os aprendizados duros. Ser grata e presente nestas horas.

Percebo, ao ver minha “receita”, que para mim ser feliz é ser autêntica. E ser autêntica pressupõe vulnerabilidade, grandes tombos, receber foras, perder dinheiro.

Perdoar a mãe imperfeita que sou. Ter empatia com quem me causa sofrimento.  Responsabilizar-me pelo que me acontece e, sobretudo, o que eu faço com o que me acontece.

Ser feliz para mim, é ser verdadeira comigo e com quem eu amo. Com todos os (muitos) preços que isso exige.

Viver esta verdade nutre minha alma. E isto, para mim, é ser feliz.

 

PS: A foto, tirada em Inhotim, num momento em que eu, entre outras coisas, gestava a separação depois de um casamento de 20 anos. Momento feliz no meio de uma dura transição. Ilustração viva do texto acima…

 

Sair da versão mobile