Partir ou ficar?
“Onde não puderes amar, não te demores” Frida Kahlo
Esta frase fez sucesso na minha rede, nos últimos dias.
Perguntei-me o que nela desperta tanto movimento.
Intuo que todos ansiamos por proteção contra a falta de amor, e retirar-se é uma forma de proteger-se. Pode ser estratégico, auto-preservação.
Se não há amor, vamos embora.
Mas repassando as palavras, fiquei dividida.
Quando sabemos se já tentamos o suficiente?
O quanto desta escapada é fugir de nossa própria inabilidade em amar?
Equilíbrio difícil, sobretudo para mim, avessa a deixar o campo de batalha.
Quando é hora de partir?
No amar alguém.
É preciso combater o veneno das relações opacas, parcerias ocas, falta de amizade. Sufocadas pela rotina e os conflitos silenciosos apodrecendo-nos por dentro.
Por vezes, não há mais o que cuidar, passamos do ponto. Mas quando? Onde é este ponto?
Sonho com mais parcerias onde se pratica o amar de portas abertas, vento espanando velhices e destemperos. De mãos dadas, coração com coração, beijo inesperado.
Mas nem sempre assim. Então quando partir?
No amar um ofício.
Ao invés de arrastar-se por um campo estéril, acumulando frustrações e cansaço, encontrar um solo fértil para plantar seus talentos. Cultivar com esmero para ver brotar o fazer a diferença no mundo.
Mas como lidar com os complicadores? Falta de dinheiro, ineditismo na oferta, conflito espiritual? E a vontade de ficar bem quietinho, acolhido na segurança de um trabalho que não nos dá alegria, mas não nos assusta também?
Como saber que cruzamos a fronteira entre o que é sensato e o que vai nos adoecer? Quando repensar o trabalho?
No amar quem não nos ama.
Difícil olhar para dentro e encontrar aquele buraco. O não-reconhecimento. O medo de sermos pequenos, disformes, aleijados ao olhar alheio.
O desejo grande, tão grande, de pertencer.
E aí vem este outro e acaba com a gente. Maltrata, despreza, ataca. Ou simplesmente está sendo fiel a si mesmo, sem muita preocupação em acomodar nosso sentimento.
Ah, este amor é difícil.
Como enfrentar o peito encardido, cheio de tristezas desbotadas de nossa infância? A raiva assassina, sobretudo de nossa própria humanidade?
Quando fechar a porta para um amor não correspondido?
Não tenho respostas.
Mas vislumbro um caminho.
Para saber se é hora de desfazer-se de um amor, ou buscar um novo, o caminho mais certo é amar-se.
Olhar para dentro de si, com nossas verrugas, cacoetes, desengonçamentos.
Olhar para dentro e reconhecer-se companheiro de si mesmo, desde sempre.
Dar-se a mão e dizer: vamos juntos. Se o amor não está lá fora, está aqui dentro. Dentro de você.
E assim, quentinhos deste amor, avançarmos ao encontro ou não do outro, mais inteiros e luminosos.
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Muito bom este seu artigo, concordo que primeiro precisamos nos amar para depois amar ao outro
como você diz neste artigo…o caminho certo é amar a si mesmo
sucessos
Obrigada, Regina. Caminho difícil, mas que vale muito a pena. Desejo boa sorte no seu!
Adorei o seu artigo, Letícia. Calou-me fundo. Recentemente aquele com quem eu iria casar sumiu. Não mais se comunicou. Sei onde está (em casa a continuar suas atividades), recebi telefonema de parente dele, tentei me comunicar pouquíssimas vezes (apenas por email; e recebi frieza – fiquei sem resposta alguma). Sei que nada fiz, sei que ele agiu como um moleque, envolveu toda uma família. Sei. Ando irritada, infelizmente adoeci, mas decidi olhar para mim, me cuidar e viver a vida que me resta viver. Seu artigo me ajudou muito!!! Eu já te recomendava no meu blog. Estava certa ao fazê-lo. abraços muitos
Querida Rosane, sua mensagem me emocionou. Escrevo para dar vazão ao que sinto, mas sempre na esperança de servir a outras pessoas que partilhem de sentimentos parentes dos meus. Desejo a você muita coragem e bons ventos na sua vida e vamos caminhando próximas. Beijos, Leticia