Pas-de-deux

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Tenho observado um novo jeito de ser.
O ímpeto vem e eu o observo, antes de agir.
Às vezes, logo depois de agir.
São duas Leticias dentro de mim.
Uma, selvagem, cavalo galopante sobre a vida, as pessoas, eu mesma.
Outra, levitando com  um tanto mais de  sabedoria e discernimento (em construção).
Uma mora no meu cérebro reptiliano, ali pertinho da raiva, do medo e  outras emoções dos meus tempos de caverna.
Outra é cultivada com muita disciplina, estudo e cicatriz.

As duas precisam uma da outra.
A Leticia selvagem tem um sangue fervilhante, um coração que pulsa, uma vulnerabilidade secular.
Ela tropeça muito, mas é viva. E inspira a humildade da outra Leticia.

A outra Leticia busca respirar fundo e frequentemente, comer frutas, meditar, lentificar-se.
Acalma a outra em banhos salgados de mar.
Para conter a outra em si. Ser maior do que a outra.

Uma Leticia é pequena. Quando sente-se desprotegida, vira bicho.
A outra é atemporal, grande, mas não pode ser gigante.
Por isso pratica o tamanho suficiente, o silêncio curativo, a auto-observação.

Estas duas Leticias trabalham muito.
Mas, às vezes, abraçam-se e assim enlaçadas num colo infinito, vislumbram a paz.
A minha paz.

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