Paz aos tropeços

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Foram dias de emoções desengavetadas.
Daqueles que tentamos guardar bem bonitas, meias enroladas combinando.
Não as guardamos porque sejam belas.
Ao contrário.
São feias. Torpes. Primitivas.
Arrumando-as assim, iludimo-nos de nosso controle.
“Elas estão onde eu  quero”. Ledo engano.
A qualquer momento, escapam do cárcere.
Raiva. Medo. Mágoa. Ressentimento.
E todos os primos próximos e combinações afins.
Desisti de lugar contra elas.
Escolho outro caminho.
Ser curiosa.

Pego cada sentimento torto em minha mão. Olho com cuidado.
Admiro suas arestas, suas verrugas e imperfeições.
A raiva vira combustível, para eu sair da preguiça e do cansaço.
O medo é um bom companheiro para que não me lance tão nua no espinheiro.
A mágoa relembra que eu me importo e por isso sofro.
O ressentimento é um sentimento requentado, mostra que tenho coração.

Sento-me no meio da sala com minhas emoções desengonçadas.  Sinto compaixão profunda.
Ninguém as quer.
São párias, invejando secretamente o amor, a generosidade, a temperança, a coragem, a empatia.
Mas sem eles, ah, o que seríamos?
Orgulhosos demais em nossa perfeição. Onipotentes em nossa virtude.

Abraço meus sentimentos enjeitados, como se fossem pelúcias da infância distante.
Atordoados com o inesperado carinho, tropeçam sobre si mesmos.
E eu rio. Alívio.

Como pude sofrer tanto por algo tão bom.
Perdoo.  A eles. A mim.
E assim, de braços dados com minha vulnerabilidade, começo mais um dia.

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