Pela fresta da janela, palavras aguardavam pacientemente para emergir. Entre tanta mudança, um dia haveria pausa.
Os dias viram meses que viram anos, e elas ali, pulsando serenas. Um dia… Sabiam.
Hoje acordei na casa nova, depois de uma semana-avalanche com obra, trabalho, filhos, limpeza, mudança. Tudo misturado.
O céu está azul, quase tudo está no lugar. Mas só agora o coração se aquieta. O (novo) marido conserta coisas ao som dos anos 80. E eu escrevo.
Escrevo para agradecer, escrevo para desabafar, escrevo para dizer que não esqueci as pessoas no meu silêncio.
Os tempos têm sido de gestação e digestão profundas. Transformações não são novidade para mim, mas desde 2016, a pele se renova com mais cuidado e mais introspecção. A separação de meu primeiro marido, a morte de meu pai, os desafios na construção de um novo amor e descobrir que meu irmão está gravemente doente trouxeram uma inédita sobriedade ao Viver Mais Simples.
Os dias viram meses que viram anos.
Cada vez mais, sinto necessidade de fazer o que é importante e deixar marcas do bem no mundo e nas pessoas.
Cada vez mais, preciso confiar em ser eu mesma, enfrentando as vozes dentro e fora que me exigem “normalidade”.
Cada vez mais, o tempo voa e com ele leva pessoas, oportunidades, janelas.
Por isso viver o hoje tornou-se missão.
A quem me pergunta – “Como está sua vida?”- respondo:
Sou grata pelo que acontece, doce ou amargo. Tenho muito a celebrar e muito a me curvar. Gratidão e humildade, são os nomes que invoco.
Pela fresta da janela, um vento brando balança as palavras. Elas são minhas companheiras nesta constante metamorfose chamada Vida.
Os dias viram meses que viram anos.
Contemplo, agradeço e sigo em frente. As palavras sorriem da fresta da janela.