Em meio ao exílio demandado pela chuva torrencial, deparei-me com um interlúdio de tempo inesperado: os dois filhotes adormecidos! Após considerar várias opções, decidi executar o menu da noite, já que minha super-auxiliar Dedéia ficou ilhada em Nova Iguaçu e não pode vir me ajudar.
O prato do jantar era lasanha de presunto e queijo. E enquanto eu cozinhava, repassei um pouco do processo de construção de minha própria identidade como cozinheira.
O ponto de partida foi uma receita do site Tudo Gostoso. Mas de cara decidi não seguir ao pé da letra, ofendida com a nota de rodapé para a receita de molho branco: “Essa é uma típica receita francesa, qualquer outra invencionice descaracteriza o molho”. Revoltei-me e ignorei, praticamente tocando de ouvido…
Também aproveitei dicas do blog culinário Ptit Chef, bem mais simpático. Assim escaldei a massa pré-cozida. Também moí o presunto e o queijo, que torna o prato mais saboroso, de acordo com outra fonte on-line de que não me recordo…
Parti para a parte mais difícil da receita, o tal molho branco. Impaciente que sou, odeio esperar a consistência certa. E sempre empelota… A primeira receita, fiz coletando fragmentos de aprendizados anteriores mais o reconhecimento de que jamais funcionou para mim fazer uma “farofinha” com a manteiga e farinha ANTES de misturar ao leite, como é recomendado. Tentei algumas vezes sem sucesso, ao executar pratos de minha bíblia do suflê, Nossas Receitas. Fiz então uma versão aproximada a partir da quantidade de leite sugerida em uma receita: 2 xícaras de leite, 2 colheres de sopa de farinha, uns 50g de manteiga e o toque magistral de pitadas de noz-moscada.
Foi uma epopéia: empelotou duas vezes (pacientemente coei e devolvi ao fogo) e não engrossava de jeito nenhum. Aqui um parêntesis, o conceito de engrossar é passado através de gerações e certamente por mim aprendido com minhas ancestrais culinárias: Patricia, Gisela e Regina… O mistério reside em “ver o fundo da panela”, conceito também válido para brigadeiro. É um ponto meio instintivo e minha intuição me dizia que sem um pouco mais de farinha, ficaria até amanhã na beira do fogão. Enfim, o molho ficou pronto e eu prossegui com a receita: forre a forma com o molho, ponha uma camada de massa, uma camada de recheio e nova camada de massa. E aí vi que o molho era pouco… Novamente o processo, desta vez meio aleatório: 2 xícaras de leite, algo como 1 coador pequeno de farinha, manteiga no olho… E noz moscada. Ficou perfeito, não empelotou, levou 5 minutos…Cobri a lasanha, satisfeita, cobri com porções generosas de queijo parmesão ralado e amanhã o Lucrécio posta um comentário se tiver dado certo…
Mas voltando ao ponto da identidade. Veja que curioso: referências da internet, lições das matriarcas, minha própria intuição, um livro… E assim se fez a cozinheira, de fragmentos esparsos coletados hoje e ontem. E -por que não?- o processo que faz tudo em mim, aprendizados semeados pela trilha desta aventura que é a minha vida…