Sem pressa para chegar
Este fim-de-semana fiz mais uma de minhas emocionantes visitas a São Paulo. Fui com meu filho de seis anos honrar a grande amizade que temos por Victor, Laís e Eric.
Desta vez, senti São Paulo de uma forma diferente, que mexeu muito comigo.
Salvador Dalí |
Logo na chegada, percebi muitas pessoas aflitas, ligando para marcar um táxi antes mesmo de desembarcar. Na saída, todos corriam para sair do avião, para voltar para casa. Bateu uma compaixão, uma tristeza. Comecei a explicar para o Léo:
“Filho, vamos ficar aqui no cantinho para deixar estas pessoas passarem. Elas estão com saudades da esposa, do marido, dos filhos, por isso estão correndo assim. Nós temos um ao outro, portanto podemos esperar.”
Um homem parou, sorriu e me disse: “Estou doido para rever minha esposa”. Outros desaceleraram por um breve momento e nos olharam, meio surpresos.
Ontem mesmo eu era uma destas almas torturadas, entre apertos de tempo. De um aeroporto a outro, dormindo em camas estranhas de hotel. Com sono, comendo lanches sem sabor. Pensando se valia a pena perder 30 minutos no Duty Free de tanta saudade do marido e dos filhos.
Eu fui assim e não me reconheço mais nesta solitária figura.
Por isso, fiquei muito, muito comovida com estas e outras pessoas que vi passar de relance nestes últimos meses. Pessoas com vidas pela metade, correndo para escapar para seus lares e seus amados por um tempo demasiadamente breve.
Escravos de crenças antigas, com medo de ficar sem dinheiro e não prover para os seus. Sem fé nos seus talentos e no seu presente para o mundo. Pessoas tristonhas, perdendo o melhor da vida.
O mais irônico? Saí com calma e fui tirar um dinheiro no caixa eletrônico, que fica no meio de Congonhas. Deu vontade e decidi pegar um táxi na área de embarque. O que fiz em menos de cinco minutos.
Aí o motorista me disse: “Está uma loucura lá no desembarque, ninguém consegue sair”.
Fiquei pensando o quanto minha tranquilidade me inspirou a caminhar um pouco mais, com o resultado de chegar mais rápido num fim-de-semana de sentimentos felizes em meio a muitos, muitos amigos queridos.
Moral da história? Meio óbvio, não?
Qual o sentido em um trabalho ou uma vida assim? Correndo de uma reunião para outra, sofrendo de saudades, querendo estar em outro lugar.
Para quê viver uma vida pela metade, se recebemos uma vida inteira para nós?
Fiquei com vontade de ir mais a São Paulo. Aprender com este batimento acelerado e compartilhar meu novo ritmo.
Não precisamos correr tanto. Temos uns aos outros.