Sempre eu, nunca igual
Desde sempre fui movimentos.
Ávida por novidades, curiosa por gente e histórias.
Conversas, paisagens, enredos sugeridos. Tudo me cativa, atrai meu olhar.
Estou sempre em busca de uma nova porta. Vida-caleidoscópio.
Contudo, esta natureza cobra seus preços. Este meu amor por imprevistos e mudança irrompe de um profundo dentro. É parte de minha essência mais primal. Sou um vendaval de humores.
Amanheço mansa, anoiteço farpa.
James Nares ~ In Three Words, 2012 |
Mal percebo e minha lua mudou. Já é tempestade, terremoto. Relampejo, furiosa.
Não creio na estereotipia de que é da mulher ter tais veleidades.
De fato, suspeito ser algo mais visceral. Talvez corra lava em minhas veias. Esta fome de incerteza e transição incandescente me constitui, célula por célula.
Poesia à parte, quando vêm trovões, sou varrida por ondas de mau humor ou intolerância e sempre me arrependo.
Percebo-me arisca, dura, imprópria para consumo humano.
Tento (nem sempre consigo), minimizar os estragos, dando alguns passos para trás.
É difícil.
Conheço um pouco mais de mim e já aprendi quando fico mais propícia a virar tormento.
Fatores habituais de risco são o tédio, a rotina ou mesmo um pacato final de domingo, quando estou mais desprevenida.
Hoje foi assim. O dia passou rápido e sem surpresas, e quando vi, já era quase noite.
E não é quase nunca assim, mas hoje veio com um certo vazio. Cresci espinhos.
Sinto muito.
Sinto mesmo.
Gostaria de ser um pouco mais calma, um pouco mais lenta, mas dentro de mim vivem estas paixões, esta vontade de aventura.
Penso que na vida é preciso sustentar o pulso, navegar com ritmo. Só entre montanha-russas, eu engasgaria em adrenalina.
Minha cabeça sabe que é preciso um pouco de paz para sustentar equilíbrio.
Mas meu coração, ah, meu coração…