Estou adorando escrever sobre os cinco sentidos, talvez por estar tão conectada com sentir.
Sem dúvida mudei os verbos de uso cotidiano: antigamente eram “pensar”, “discutir”, “debater”, “comprovar”. Sem contar o “brigar até o fim”…
Agora vejo que estou mais sensorial: “experimentar”, “provar”, “aventurar-me”, “tangibilizar”…
Não pode ser coincidência estar com um negócio de gastronomia… Nem praticar a ideia de entregas tangíveis em todas minhas consultorias!
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Hoje quero falar do tato. Tato que era tão estranho e ainda assim tão familiar para mim.
Eu costumava tropeçar nas pessoas, avançar com meus pensamentos initerruptos. Uma argumentadora incansável.
E nem percebi que meu corpo se expandia para dar conta de tanto embate.
Agora não. Aproximo-me dos 80 quilos, o melhor peso desde 2003… E apesar de ter menos área de exposição, estou mais sensível, sem a menor dúvida.
Olhando para trás, vejo que sempre me envolvi com experiências táteis, embora minhas memórias tendessem para o paladar ou visão.
A areia
Nas caminhadas na Praia de Carapebus, sempre me deliciei com o toque áspero dos grãos grossos de lá. Cavava piscinas, fazia buracos, uma intimidade tremenda com este roça-roça com os grãos e as conchas.
Ainda hoje prezo o escorregar a cada passada, o afundar e prosseguir. Olhar o rastro de pegadas, ouvir o barulhinho meio rangido…
O sol
Em tempos antes de Sundown, adorava esticar-me toda para receber raios UVA e UVB… Descascar era uma tradição. Mas ficaram no passado a experiência do bronzeado (?) e ritual em companhia das primas…
O que jamais perdi foi a relação de afeto com o toque suave de um raio solar. Lembro da primeira vez em que senti o sol na pele quando morava em Londres. Era abril de 1999 e eu já havia esquecido como era, após cinco meses de inverno inglês. Saí do metrô e fui inundada pelos raios e pela música “Here Comes the Sun”. Entendi tudo, pela primeira vez.
Só quem não teve sol sabe a falta que faz.
Nestes dias “invernais”de Rio de Janeiro, tenho apreciado o quentinho vespertino dos dias ensolarados, nas varandas amigas. O toque cálido é um poema na pele, envolta no amarelo suave do fim-de-tarde…
O mar
De todos, o meu maior amor. Sempre fui louca por águas salgadas, a ponto de conversar com as ondas na praia, de ficar horas imersa.
Natação foi o único esporte que realmente me conquistou, antes do Pilates. Estar na água é calmante, revigorante e um mergulho em mim mesma.
Adoro o gosto de sal, adoro subir junto com a onda. Adoro boiar sem rumo, enxugar os olhos… Acostumar-me à água gelada. Sentir as diversas correntes entrelaçando-se comigo.
O mar é onde sou mais eu mesma. Uma solidão apaziguadora e completude sem tamanho.
Além destes elementos selvagens do meu tátil, acrescendo duas paixões relativamente mais recentes…
O abraço
Sou uma abraçadora profissional. Na dúvida, abraço. Percebi que surpreende a muitos e também que é uma forma maravilhosa de amor sem palavras.
Com meus filhos, na hora em que tudo falha, o abraço redime.
Com os amigos e desconhecidos, uma expressão muito verdadeira de acolhimento, desarma qualquer um.
A dança
Nunca fui exímia esportista ou dançarina. Por isso aprender dança de salão foi um exercício incrível. Hoje arranho bons passinhos, mas o melhor foi melhorar meu relacionamento com o espaço.
Em busca de experiências (por que não?), abracei um curso de dança regional. Assim esbarrei com o Cacuriá e os mais conhecidos Carimbó e Tambor de Minas. Entrei sem grandes pretensões (e saio do mesmo jeito). Mas tenho aprendido a superar novos limites: de timidez (?); de consciência corporal, de entrega ao ritmo.
Quem quiser, pode conferir ao vivo em apresentação na Cinelândia, marcada para 3/8, entre 19h e 21h…
O que mais dizer? A pele é um presente para nós. Sentir frio, calor, pessoas. Uma boa massagem, um carinho, um cafuné.
É o oposto de falar, portanto meio mais fácil de expressar o coração. E podemos seguir um ritmo, seja das ondas ou da percussão e avançar assim, meio sem rumo e, ao mesmo tempo, com total sentido.
Como a vida deveria ser sempre…