Sentir-se dentro da pele
Tenho ficado muito emocionada ao ver pessoas praticando sua paixão. O nível de arrebatamento, a entrega do corpo, o brilho no olho, o quase sem ar deliciado.
Vendo rodas de Jongo e outras danças brasileiras, posso sentir este transe no outro… E aprendiz que sou, anseio pelo momento em que também voarei assim…
Lucrécio Brasil |
Perguntei a uma amiga: “você dança desde de pequena”? E desvelei uma história linda, de criança passando férias no interior do Ceará. Visitando avós no “interior do interior”, dançando forró no terreiro, sob a luz de um lampião.
Só quem já esteve na presença de um lampião -e eu estive- sabe da beleza dos claros e escuros, das formas sugeridas e não vistas inteiramente. Imagino que dançar entregue sob esta luz deva ser uma experiência muito marcante para uma criança de sete, oito anos. Sob estes lampiões foi costurada a dança ao corpo de Samara, numa memória feliz para ninguém botar defeito.
Tenho amigos que se sentem assim quando compõem uma música, quando cantam, quando contam histórias.
Eu me sinto assim com as palavras. Quando elas pulam do meu peito numa conversa, quando elas entram pelos meus poros ao ver uma pessoa narrando sua paixão e suas crenças profundas. Por que eu tenho em mim as palavras alinhavadas com minha alma.
Nem todos são das Artes, mas todos temos um coração e, como aprendi com Samara, basta isso para ouvir um batuque reverberar no galope do próprio coração.
Assim me sinto ao descobrir as danças brasileiras. Ainda desastrada, tímida, mas feliz e caminhando…
Lucrécio Brasil |
E muito grata ao ver minha filha de três anos chorar por que a roda de Cacuriá tinha acabado e agora ela queria ir para a roda de Tambor. Eu, exausta de tentar não perdê-la no meio da multidão. Ela, fascinada, já começando a se entregar, começando a costurar seus pezinhos com o som da percussão. Feliz em sua saia rodada, preocupada que a flor não caia do cabelo. Querendo ir para o meio de todos, mesmo tombando de sono.
Não sei quais artes brotaram ou esperam por brotar em cada um de vocês. Eu estou reinventando as minhas.
E estar ali, no meio de sons, cheiros e rua. Estar ali com minha filhinha e sua pulsação e sua felicidade. Valeu o cansaço, a preocupação, as mil broncas…
Agradeço a Samara que me convidou para conhecer as danças. E agradeço à Juliana, “menina do jabuti”, como Olivia a apelidou.
Convido vocês a buscar a sua expressão. Algum tipo de música, de mexer o corpo, de pintar e bordar. Prometo que, em silêncio e êxtase, derramado naquele momento, o coração mergulhará numa alegria indízivel.
É como se a pele reconhecesse seu lugar. Minha pele, meu pulsar. Sejam palavras, sons ou tudo junto misturado…
Recosturemo-nos todos. Nossa pele, nosso coração e nosso sangue bordados entre música, palavras e cores.
Vamos?
Querida Letícia, sua sensibilidade me comove.
E eternizar os momentos, as vivências, e compartilha-las por meio das palavras é o seu dom. Elas pulsam de maneira natural como a minha dança. Quero aprender, compartilhar as palavras e histórias e rodar as saias com você, sempre!
Vamos dançar a vida Samara, que estamos vivas. Muito vivas…
Letícia,
Lindas as palavras qeubrotaram de sua pulsação!
Atá quinta-feira, brincante.
Bjs
Cristina