Viver Mais Simples

Ser testemunha

Na correria da volta ao trabalho, não quero perder o que aprendi no último World Domination Summit.
Uma das lições mais preciosas foi sobre como lidar com a morte e a perda, através da fala transformadora de Megan Devine.
Megan falou sobre luto. Ela perdeu seu jovem marido de forma trágica e hoje ajuda pessoas a lidar com suas próprias dores.

Seu convite: “Aprendam a testemunhar a dor”.

Encontrado em thespiritscience.net

Muitas vezes queremos “consertar” quem está de luto.  “Isso vai passar”. “Foi para o melhor”.  “Ele/Ela estava sofrendo”. “Deus quis assim”.

Tudo isso pode até ser verdade, mas não consola.
Não há consolo possível para uma doença ou morte, esperada ou não.
Para a perda de um emprego. Para o fim de um grande amor.
O tempo pode atenuar, mas não há como remediar o que perdemos.

O convite de Megan é para que sejamos mais corajosos.
“Eu estou aqui, nada do que eu possa fazer vai diminuir sua dor, mas eu estou aqui. E você pode sofrer o quanto for necessário, por quanto tempo for necessário. Eu estou aqui”.

“Dor merece reconhecimento, não conserto, ela disse.
“Testemunhar é um ato de coragem”.

Para mim foi uma revelação sobre como lido com a dor alheia.  Eu costumo trazer meu otimismo como solução. Agora entendo como isto pode ser cruel, mesmo que cheio de boas intenções.

O roteiro recomendado por Megan não é fácil de seguir, mas me fez sentir mais humana.
Venho praticando:
# Perceba seu impulso de fazer algo
# Pause e reflita sobre a resposta realmente necessária (“o que posso fazer por você?”)
# Não conserte nada
# Seja testemunha: Crie espaço para as coisas ficarem mal (pelo tempo que for)

Há pouco mais de um ano, instintivamente pratiquei esta lição.  Minha melhor amiga havia perdido seu pai.  Ainda no cemitério, eu perguntei: “O que eu posso fazer por você”.
Ela me disse: “compartilhar sua alegria e me apoiar no nosso trabalho”. Ela também me havia pedido para tirar algumas fotos do enterro, para mostrar para o filho que não se sentiu pronto para o ritual.

Cheguei em casa e decidi contar uma história junto com as fotos. A história da vida e da morte de um grande homem.

O poder curativo de minhas palavras sobre a família, me surpreendeu.
Hoje, sei que praticava intuitivamente o que aprendi com Megan Devine, quase um ano depois.
Eu não me furtei a falar da morte, da dor, da saudade. Não me escondi num otimismo falso de que tudo foi para o melhor. Afinal, nada seria melhor do que tê-lo vivo, ao nosso lado.

Outras mortes e perdas aconteceram. Nem sempre fui a melhor testemunha.
Ainda ontem, meu irmão me dizia: “Às vezes, tendemos a buscar solução para o outro, que só quer um aconchego”.
Ainda estou aprendendo.
Mas sou grata por ter compreendido a beleza de acolher a dor sem medo dela nunca terminar.
Esta semana, Chris Guillebeau, fundador do WDS, escreveu um lindo texto sobre a morte do seu irmão, de forma muito trágica.
Mais uma vez, refleti sobre a finitude da vida.
Mergulhada na crueza desta realidade, faço este convite.
Vamos de mãos dadas, amparando quem sofre com nossa presença, não nosso julgamento.
Suportemos ver a dor do outro ecoando dentro, para que a solidão da travessia seja mitigada.
Vamos juntos, em frente e com tudo.

Sair da versão mobile