Sobre centauros
Ajudar quem precisa é um trabalho nobre, mas traz um quê de sofrimento. Afinal, é preciso mergulhar um pouco na dor do outro, para apontar possibilidades de realização.
Quase todos os dias conheço novas histórias de quem está na luta por encontrar seu caminho. Pessoas cansadas de ter um trabalho que paga as contas, mas não alegra o coração.
Todos os dias eu tento o meu melhor para contribuir nesta busca por ser herói da própria jornada. Construir uma carreira alinhada com o sonho de cada um.
Mas são poucos, muito raros mesmo, os dias em que conheço alguém que conseguiu. Alguém que venceu o medo, enfrentou as pedras da escalada. Alguém trabalhando no que realmente gosta, mesmo sendo pouco convencional e muito árduo.
Hoje foi um dia desses.
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Estava no meu voo para São Paulo, ainda ruminando não ter fechado a turma da Jornada Odisseia. Foi quando vi um rapaz muuito alto e pensei. Tomara que ele não sente aqui, somos dois grandalhões…
Claro que ele sentou ao meu lado. E não me apertou.
Lá pelas tantas, eu consegui derrubar coca-cola nele. Foi o começo de uma conversa que me emocionou muito e virou este texto.
João Paulo é jogador de pólo profissional. Ama cavalos, que conheceu com seu pai, ex-jogador.
Apesar da história paterna, não recebeu grande incentivo para se profissionalizar. Histórias tristes de esportistas mais antigos assustavam seu pai.
Tentou um trabalho mais “normal”. Graduou-se em Economia, foi trabalhar em banco. Mas não suportou. Pensava em seus cavalos, no sítio, em tudo… Menos o dia a dia do escritório.
Buscou conciliar agenda de competições com vida de 9 às 17h, mas haja férias…
Então, assumiu sua vocação e foi.
Foi buscar seu sonho de estar com os cavalos e competir. Experimentar novos desafios, viajar, se superar.
Sua família não incentivou tanto no começo. Mas ele não se acovardou: vendeu seu carro e bancou a primeira grande viagem para competir.
Ainda hoje é duro. O pólo é um esporte pouco reconhecido no Brasil, considerado de elite… Profissionais são sub-valorizados, falta patrocínio.
Mas quando falávamos de cavalos, seus olhos brilhavam e eu quase ouvia o suave respirar de um animal dentro do seu coração.
Contou-me de uma vez que doou um cavalo para um menino tetraplégico, para trazer um pouco de magia para a criança.
Contou-me que já realizou muitos sonhos de bom tamanho, com uma modéstia impressionante para um jovem de 35 anos.
Não se chateou com a calça manchada de coca-cola… “Vou sujar mesmo”.
Simples assim.
Saí com meu coração leve: “Obrigada por sua história”. Precisava ouvir isso. Precisava renovar minha fé, recordar o que me faz prosseguir no caminho de organizar ideias a serviço de uma relação mais feliz com o trabalho.
Obrigada, João Paulo. Muitas vitórias e muitos bons momentos. Que você nunca tenha que abandonar sua vida de centauro.
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Lindo e inspirador, porque até pra nós que estamos trilhando os caminhos do coração, precisamos renovar nossa fé.
Beijos,
Simxer
Simxer, Simone!
Eu sou testemunho da sua jornada centáurica, cada vez mais heroica e exitosa!!
Vamos renovando juntas esta fé no caminho nosso de cada dia!
Oi Leticia,
gostei muito desta postagem,
tudo muito inspirador.
É isso, às vezes "ter braços de centauro" é um tremendo exercício de alongamento.
bj
Ana, querida!
É assim mesmo. Desafiador e maravilhoso. E não saberíamos fazer diferente…