Sobre limões

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Esta Páscoa sofri um assalto a mão armada, onde levaram o carro, entre outras coisas.  Uma experiência intensa e assustadora.

Não foi, nem está sendo fácil.  Mas me chamou a atenção receber comentários sobre a tranquilidade e atitude emocional com que lidei com tudo.  Foi tudo muito automático para mim e o reconhecimento foi bem-vindo.

Mais recentemente, tive uma grande decepção profissional. Um projeto onde investi muito tempo e recursos teve um desfecho abrupto, com diversos prejuízos.  Mas de uma forma estranha, senti uma nova energia e estou espanando a poeira com elegância.

Afinal, o que fazer quando a vida nos dá limões?

Limões podem nos despertar para o açúcar da vida. Mas isso é uma escolha:

Minha reação instintiva no assalto foi me proteger usando da gratidão.  Poderia ter sido muito pior. Eu e meus dois acompanhantes saímos vivos e sem ter sofrido nenhuma agressão verbal ou física dos assaltantes.  Encontramos uma pessoa disposta a nos dar carona.  Chegamos relativamente rápido em casa. Abalados, mas ilesos.

A prática da gratidão é algo incentivado pela Psicologia Positiva.  Percebi o caráter curativo e calmante de agradecer por algo quando as coisas não vão bem há alguns anos.  Hoje, quando não vem de forma involuntária, eu procuro por onde agradecer.  Aprendi com uma ex-cliente a fazer uma gratidão mesmo frente ao que é indesejado.

Limões podem nos acordar de um sono profundo (e indesejado)

A perda do meu pai me deixou num estado de relativa paralisia. Simplesmente me desconectei do trabalho. Como costumo dizer, é como se eu caminhasse na água, com toda a resistência que ela oferece.

Este trabalho dos últimos tempos foi uma chacoalhada violenta.  No entanto, é inegável que estou mais pronta para retomar um certo ritmo em produzir e criar.  Respeitando o luto ainda recente, mas com mais vigor e musculatura que antes.

Limões são lições de humildade

Nos dois casos relatados, tive que aceitar minha impotência. Esta prática é um antídoto para minha constante (e por vezes fatigante) inquietude.  Há vezes em que não há nada a se fazer.  Esta dura certeza de certa forma me convida a me acalmar em outras situações, bem menos extremas.  E fluir com o desenrolar dos fatos.  Seguir trilhas mais naturais, de menor esforço. Alternar subir montanhas com o boiar o rio profundo da vida.

Limões são gatilhos de resiliência e criatividade

O desgaste emocional do projeto mal-sucedido veio junto com uma vontade/necessidade de me reequilibrar.  Quase intuitivamente, vislumbrei práticas para me reenergizar e retomar a caminhada: novos encontros, novas ideias e um resgate de práticas de ancoragem: minhas terapias, cuidados comigo, uma boa mistura de recolhimento e encontros com amigos queridos. Um banho de arte e música.  A aridez da jornada me convidou a buscar bálsamos para prosseguir.

Nietszche dizia e eu repito: “O que não me mata, me fortalece”.  Ainda assim, é preciso respeitar o luto dos dias onde sofremos revezes, violência, decepções.

Neste suave diálogo entre agradecer as lições aprendidas e cuidar das feridas, resgato minha sanidade somática, meu centro, minha voz.

A língua volta e meia estala com a acidez do limão.  Acolho.

Outras frutas amadurecem no meu pomar.

 

 

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