Quando me casei, li vários textos da Bíblia, buscando o que usaríamos na cerimônia. Escolhemos um texto que até hoje me emociona, do Eclesiastes.
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“Existe um tempo próprio para tudo, e há uma época para cada coisa debaixo do céu:um tempo para nascer e um tempo para morrer;um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;um tempo para matar, um tempo para curar as feridas; um tempo para destruir e outro para reconstruir;um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria;um tempo para espalhar pedras, um tempo para as juntar; um tempo para abraçar, um tempo para afastar quem se chega a nós;um tempo para andar à procura e outro para perder; um tempo para armazenar e um para distribuir;um tempo para rasgar e outro para coser; um tempo para estar calado e outro tempo para falar;um tempo para amar, um tempo para odiar; um tempo para a guerra, e um tempo para a paz.”
Tenho me visto assim, reaprendendo sobre tempos. Sinto brotar um desejo de paz, de recolhimento, de espera.
Começo a descobrir de onde vinha o sentimento de serenidade durante minhas gestações. Um aviso de meu corpo sobre como é bom esperar, como é bom nutrir uma semente e deixá-la prosperar no seu próprio momento. Sempre foi um período de saciedade, de equilíbrio, de uma felicidade tranquila.
Dei-me conta esta semana de que estou aprendendo a gestar sem estar grávida.
Gestar este novo corpo, em constante transformação, faminto de novidade mas sedento de pausa.
Esta nova vida, incerta e real. Bonita e assustadora. Poesia e sombras.
Este novo jeito de trabalhar, de criar os filhos, de me relacionar com as pessoas. De me reconhecer no mundo e em mim.
Percebo agora como herdei o espírito semeador de meu avô Celso. Sou fazendeira de mim mesma, plantadora de sonhos. E, como ele, preciso abraçar a chuva como uma benção. Mesmo que tempestade…
Saber esperar o brotar.
Pois semear está em minhas mãos, mas depois é luz, água e um pouco de sorte.
Hoje aprendo com as estações. O inverno no peito. O tempo de ver as folhas caírem. Os dias de brotos novos. O coração incendiado no fogo de verão.
Com minhas mãos nuas, revolvo esta terra. Estou cansada, mas satisfeita. Plantei boas sementes, numa terra boa. Agora é esperar.
Que venha a colheita.