Quem não se sentiu pesado ao final do dia? Carregado de preocupações passadas e ansiedades sobre o futuro?
Quem não se sentiu impuro, infértil e infeliz com tantos golpes da rotina sem tempo ou respiro para lidar com?
Pois é. Há um tempo para tudo.
E há o tempo de quarar.
Crédito Imagem: Lucrécio Brasil |
quarar
(alteração de corar)
v. tr. e intr.
[Brasil] Clarear (a roupa) ao sol. = CORAR
Para quarar é preciso muito sol.
E algum espaço. Não é impossível quarar na janela da área, mas é apertado.
Para quarar é preciso um pouco de vento, para que o cheiro de limpo se espalhe por dentro de nós.
Para quarar é preciso um pouco de memória. Quem conhece esta palavra conhece quintal e teve mãe-bá-avó lavadeiras de roupa.
É preciso um varal, para ver a roupa branca mais branca que Omo resplandecer em toda sua glória límpida.
Para quarar é preciso ansiar por aquela limpeza profunda e essencial. A limpeza da simplicidade do sabão de coco e sol.
Sem promessas mirabolantes, sem família de comercial.
Quarar é antigo e tem gosto de terra. Não é asséptico, nem ultra-revolucionário.
Nos dias nublados, lembramos da força do quarar. Nos apartamentos estreitos, sonhamos com um pedaço quadrado de chão. Onde possamos dançar em volta da bacia cheia d’água.
Portanto quaremos. Quaremos nossas almas encardidas, para resgatar nelas a alva textura da infância e do nada saber.
Quaremos nossos sonhos engavetados, deixando a brisa ventilá-los, refrescá-los, libertá-los.
Quaremos nosso amor engasgado, nossa paixão pela vida, nossa gratidão pelo tudo que temos e o tanto que aprendemos com o que não temos.
Quaremos coletivamente. Quaremos com o coração.
É tempo de quarar. Por que não?