Tempo gengibre
Na culinária japonesa, o gengibre é usado para a transição entre pratos. Propicia uma limpeza do paladar.
É também estimulante, aquece, espanta a tristeza.
Agora são meus tempos gengibre.
Transição entre páginas. Lenta e inexorável digestão de passados, presente e futuros.
Há uma certa excitação no ar, efeitos colaterais de minha motilidade.
Desfruto as delícias da casa nova e observo sentimentos inéditos ou esquecidos baterem na porta.
Mas não me iludo. É tempo de transição e o processo não é trivial nem rápido.
Presto muita atenção no que emerge. Despertei para tantas coisas e costumo me empolgar com os malabares.
Respiro fundo, recordo a ioga recém-incorporada na agenda.
São tempos entre. O tempo que fica ali, no espaço apertado entre o antes e o depois.
É preciso alargá-lo.
Tempos para olhos bem abertos e coração protegido.
Tal criança, aprendo a hora de avançar e recuar. Experimentar novidades e respeitar a rotina.
Ouço músicas novas, mas também reaprendo a canção muito antiga que embala toda a mulher que floresce.
O gengibre pica a língua, acorda os sentidos.
Caminho assim, bem alerta. São novas paisagens.
É inevitável perder-me. Urge cuidar para não esquecer o caminho de volta.
De volta para mim.