Cada um carrega em si a beleza e o peso de seu próprio Mistério. O meu vem se revelando como ajudar pessoas através de minhas habilidades especiais, meus super-poderes.
Usar bem as palavras. Fazer boas perguntas.Organizar boas respostas. Ouvir o coração do outro dentro do meu coração.
Poderes mágicos e que muito podem fazer. Mas com todo super-poder, vêm as responsabilidades.
Então descubro o quanto ainda preciso praticar o controle de minha força.
Faço boas perguntas.
Mas às, faço perguntas demais, quando o outro ainda não processou ainda tudo que era necessário.
E, muitas vezes, faço perguntas sem pedir licença. Nem todos estão disponíveis para uma escrutinação de seus problemas a qualquer hora.
Uso bem as palavras
Por isso sou capaz de ferir com precisão, quando motivada pela raiva. Conheço armamento pesado e sei manejá-lo de forma mortífera. Magoando os outros, profundamente.
Organizo boas respostas
Porém muitas vezes elaboro planos demasiadamente sofisticados, portanto difíceis de cumprir. Outras vezes, não espero que o outro assimile a pergunta e já disparo a resposta.
Finalmente, me apego ás minhas respostas e nem sempre dou o tempo necessário para que o outro as compreenda. Muito menos as descarte.
Ouvir o outro dentro do meu coração
Alguns são telepatas. Eu sou “coraçãopata”. Sinto sentimentos alheios dentro do meu peito, mesmo quando nenhuma palavra foi dita. Recorrentemente falo algo que deixa olhos alheios úmidos, sem compreender da onde veio aquela emoção. Outras vezes, invoco confissões íntimas, revelações inesperadas.
Mas, às vezes, não escolho a hora e o lugar, deixando o outro ali, subitamente nu. E, outras vezes, não deixo ele se recuperar do sentimento de vulnerabilidade de abrir-se de tal maneira, tão repentinamente.
Minha intensidade é geralmente responsável por estes exageros. Se estou cansada, de guarda baixa… Se o assunto é particularmente doloroso, se a pessoa demonstra estar sem capacidade de assimilar o aprendizado. Se a relação ficou íntima demais. Tudo isso desperta o uso desregrado de meus super-poderes.
Por isso, busco ancoragem. Por isso busco antídotos. Por isso busco ferramentas, lembretes que me permitam desacelerar antes do atropelamento do outro.
Minha ancoragem tem se alicerçado no autoconhecimento. Facilitada pela Roda de Mães, Zeneide, Eliane, Workshop dos Sonhos.
O antídoto é cuidar do meu corpo. O Pilates. A Drenagem Linfática. A meditação com minha vela e minhas flores. As músicas do U2. Dormir. Fazer nada.
As ferramentas são a finitude no número de encontros profissionais. O uso de parceiros para modular minha intensidade (obrigada Beth, Érica, Julio, Eduardo. Obrigada ao maior parceiro de todos, Lucrécio).
É uma luta constante e eterna para amansar os leões do meu coração. Buscar ouvir melhor meu pulso. É hora de se recolher? É hora de ouvir? É hora de se acalmar?
Geralmente, venço. Round a round, venço. Cansada, às vezes ferida. Venço. Porque é meu compromisso com o outro. E meu compromisso comigo. Por isso sigo aprendendo, vencendo e aceitando nossas limitações.
Mas quero acolher mais ao outro, que está em um outro lugar e tempo. Tempo de espera, tempo de sobrevivência, tempo de caminhar para a frente, mesmo que sem sentido. E, no meu íntimo, desejo que o dia em que o meu ajudar possa ser útil chegue.