Tenho sonhos, visões, fantasias, sou uma de nós.
Humanos.
A novidade é aprender a dar passos menores. Melhor ainda, um passo de cada vez.
E esperar.
Exercício bem difícil, às vezes, excruciante.
O pequeno e a espera. Tão desafiadores para mim.
Sou dada a voos bem altos, amo escancarar minhas amplas asas rumo ao infinito.
E sou capaz sim, bem sei, de voar bonito e bem longe.
Sou capaz, mas será preciso?
Aprendiz de Dédalo, venho praticando sonhos de bom tamanho.
O caminho é longo, a vida é larga e eu sou grande.
Mas é preciso cuidar-me mais. Preservar-me.
Povoo a terra de sementes, algumas (muitas) não vingarão.
Aliás, já cultivei árvores inteiras, só para deixá-las para trás.
O tempo agora é de um pouco.
O trabalho está bem plantado, os próximos desejos rabiscados no meu imaginário. Agora é regar os brotos e esperar.
Enquanto isso, somente os passos necessários. Um de cada vez. Miudinhos.
Esperar.
Otimista, de que haverá sol e água suficiente para as mudas.
Confiante, que o não não foi não devia ter sido.
E persistir no que é maior: viver mais simples e ajudar o outro no frutificar, sendo feliz. E neste movimento, ser eu mesma feliz e frutífera.
São também tempos de poda e geadas inesperadas, vez por outra, desmanchando o que era dado como certo.
Mais do que nunca, é hora de sabedoria, paciência e pausa.
Lancei minhas sementes ao vento e agora, vou avançando cuidadosamente.
Sem pressas inúteis, nem excessos.
Entre silêncios e esperança, atravesso esta transição.
Intuo novidades grandes, voluptuosas e ardentes.
Não agora.
Agora é tempo de gestar possíveis.
Sigo calada e atenta, olhos de estrela no arado.