Viajante ou turista
Viajar: um sonho tão comum.
Por onde vou, conheço pessoas planejando o próximo destino, sonhando com o próximo voo.
Eu também.
Poucas coisas na vida me nutrem tanto.
No entanto quantas vezes não alcancei as verdadeiras possibilidades de estar num mundo novo.
Afinal, saímos de casa para descobrir novidades. Ou não?
Tive uma experiência muito educativa na minha última viagem.
O roteiro contemplava duas paradas: Nova Iorque e Portland.
Ia sozinha e, como de hábito, levei minha extensa lista de compras para a família.
Os primeiros dias foram difíceis.
Estava apressada, cheia de “deveres de casa”: trabalho, as tais compras, exigências.
Como uma formiga operária, usei meus primeiros dias para diligentemente cumprir a lista de afazeres.
Encontrei uma razoável dificuldade, mas insisti por um tempo.
Só no último dia percebi o meu erro: estava sendo turista.
“Ticando” itens do rol de compras, perdia o melhor da cidade. As paisagens, a arquitetura, as figuras excêntricas. Não fui a nenhum museu ou musical.
Caminhava no automático, como se pudesse resolver em 48 horas o máximo possível de tarefas.
Sim, Nova Iorque assoberba. E eram só dois dias.
Mas não é desculpa.
Ser turista é estar num lugar sem vivê-lo. E voltar com a mala mais cheia, mas menos memórias e experiências inesquecíveis.
Por sorte, aprendi a tempo.
No último dia, desfrutei de minha companhia num restaurante do Soho. Caminhei sem pressa pelo Central Park.
Pude observar as pessoas, os barulhos, a luz da cidade.
Pude me ouvir e ver como reverberava tudo isso no meu coração.
Neste dia, tornei-me viajante.
Para o viajante, a jornada é mais importante do que o destino. Mesmo os pontos turísticos recebem um novo olhar, mais curioso e lento.
Poder passar uma tarde observando uma única ala do museu.
Dar mais ênfase ao café do intervalo que aos programas em si.
Permitir-se surpreender-se, perder-se. Conhecer pessoas, interagir com a cultura local.
Cheguei em Portland com outro espírito. Vaguei sem destino muito certo pelas ruas, eventualmente chegando aonde queria. Provei frutas e comidas. Exercitei minha coragem tentando coisas novas.
De algumas, gostei muito. De outras, nem tanto.
Fiz amigos. Sorri para transeuntes (e fui retribuída).
Ao final, o tempo parecia se alargar. Ir mais lento não me fez desfrutar menos. Ao contrário.
Agora, voltei ao Brasil e sigo com este desafio.
Ser uma viajante em minha própria vida. Caminhar com vagar e presença, passo a passo.
Experimentar o que é conhecido com um novo olhar.
Ser viajante é andar com a mala mais leve e os olhos mais abertos. O respirar mais suave, os passos mais lentos.
Sem pressa e com gosto.
Sigo nesta busca sem fim. Exploradora de mim mesma e meu contexto.
Aventura maior não há.
Em tempo: compartilho meus aprendizados de viajante hoje, na palestra WDS2014 in a Nutshell.
Mais detalhes AQUI.