Vida farpada
Viver é muito perigoso, meu pai citava Guimarães Rosa.
De fato, é.
Caminhamos, muita vezes no automático, contando com uma cadência, uma certa previsibilidade.
Nada. A vida é tudo, menos monotonia.
Quando menos esperado,ela vira cerca farpada no meio da estrada. Caímos do cavalo.
É preciso saber levantar, montar de novo e partir.
Algumas vezes, é melhor ir a pé mesmo.
Mesmo assim, estamos andando distraídos, pronto. Topada na pedra, dedo roxo.
Outra forma de farpa.
O tombo não foi tão grande, estávamos perto do chão.
Mas a dor, ai que dor.
Não temos escolha, no entanto.
Fazer o quê? Esconder-se, deitado sob a colcha, viver de pijamas?
Mesmo na cama, a vida pode nos dar sustos. E, creia, é para nosso bem.
Nas farpas da vida estão lições preciosas.
Nossas desatenções e inércia tantas vezes matam mais que os tombos.
Matam o amor, a amizade, a autoestima.
A vida, assim farpada, nos ensina a caminhar de olhos abertos.
Conscientes das pedras e aramados, cuidando para não nos enredar (nem aos outros).
Lidar com este farpAmor é um tesouro na vida.
Saber tatear a rosa, apesar do espinho.
E sobretudo, não abrir mão da rosa, mesmo com medo de se ferir.
Fevereiro, tempo de fogo nos ventos e vida em brasa.
Sigo atenta e grata a estas farpas que me mantém mais viva.